Sartre recusou o Nobel há 50 anos e ‘não foi uma atitude impulsiva’

A Academia Sueca elogiou-o pela sua obra “rica em ideias e repleta de espírito de liberdade e da procura da verdade”. Mas o escritor não se deixou deslumbrar e recusou o prémio. A 22 de Outubro de 1964 endereçou uma declaração à imprensa sueca, também publicada no Le Monde, onde explicou os motivos da recusa.

“Não foi uma atitude impulsiva, sempre recusei honras oficiais. Em 1945, depois da guerra, quando me foi atribuída a Legião de Honra, eu recusei-a, embora tivesse simpatia pelo governo”, dizia nessa declaração o intelectual francês. “O escritor tem de se recusar a ser transformado numa instituição, mesmo se isso acontecer nas mais honrosas circunstâncias, como é o caso. Esta atitude diz respeito apenas a mim, e não contém qualquer tipo de crítica àqueles a quem foi atribuído o prémio. Tenho muito respeito e admiração por vários dos laureados, alguns dos quais tenho a honra de conhecer”.

Sartre invocava ainda razões políticas, dizendo que a sua simpatia ia para o socialismo do Bloco de Leste e que por isso não se sentia confortável a aceitar um prémio do Ocidente. Expunha ainda o dilema que fora recusar a soma de 250 mil coroas, com as quais poderia ter apoiado uma causa como o movimento anti-Apartheid. “É um fardo muito pesado que a Academia coloca sobre os ombros do laureado, fazendo acompanhar a homenagem de uma soma enorme. Este problema torturou-me”, escreveu.

A primeira pessoa a recusar o prémio foi Gerhard Domagk, Nobel da Medicina em 1939, que se viu obrigado a fazê-lo pelas autoridades nazis. Em 1973, o político vietnamita Lê Duc Tho recusou o Nobel da Paz que lhe tinha sido atribuído em conjunto com Henry Kissinger, pelo seu papel no fim da guerra do Vietname, alegando que aquele território ainda não se encontrava pacificado.

jose.c.saraiva@sol.pt