Uma nova troika, que será a quarta, depois das de 1978, 1983, e 2011.
E porquê? Numa conferência da sociedade de advogados Rogério Fernandes Ferreira e Associados, Medina Carreira apontou duas razões: o fraco crescimento económico e a nossa incapacidade em reduzir despesa pública.
Quanto ao crescimento, pode dizer-se que em 2014 tivemos um pouco de azar. Após dois anos e meio de recessão, a economia estava, devagarinho, a voltar a crescer. Mas eis que surgem dois factores prejudiciais ao crescimento: a implosão do grupo Espírito Santo (que, como disse o primeiro-ministro, é difícil de quantificar, mas que é certamente negativa para a economia portuguesa); e outro factor, a invasão pela Rússia da Crimeia e de parte de Leste da Ucrânia, e as sanções económicas que foram impostas de parte a parte, que não vieram ajudar o crescimento dos nossos principais parceiros comerciais, começando pela Alemanha.
Isto, quanto ao crescimento económico para o ano de 2014. Mas é possível que em 2015 a economia cresça à sua velocidade de cruzeiro, que é muito baixa: foi estimada em 1,3% ao ano. Precisaríamos de crescer mais depressa para resolvermos os nossos problemas.
Quanto ao outro factor que Medina Carreira aponta, a incapacidade nacional em reduzir a despesa, a culpa é só nossa, muito em particular dos 13 juízes que compõem o Tribunal Constitucional, e que se constituíram como o mais poderoso obstáculo ao exercício de uma sã governação desde os tempos do PREC. Ninguém gosta que lhe diminuam o salário ou a pensão. Mas, se as razões são bem explicadas, muitas pessoas aceitam a razão dos sacrifícios.
Assim, o ajustamento português, que devia ser feito em dois terços por reduções de despesa e um terço por aumentos de receita. Em lugar disso, estima Medina Carreira, as despesas caíram apenas 22% e as receitas subiram 78%. Fizemos o contrário do que se pedia.
Enfim, devido à sua experiência e inteligência, é impossível não ouvir Medina Carreira com atenção.