Intitulado 'Noite Krioula', o espectáculo divide-se em duas partes, com Neuza a ocupar-se da primeira, apresentando temas que inclui no disco de estreia, Flor di Bila – trabalho gravado no ano passado, depois de a cantora ter sido descoberta no restaurante onde trabalhava por Djô da Silva, nome de referência em Cabo Verde por ter impulsionado a carreira de Cesária Évora.
Foi a herança vulcânica que carrega no sangue e na voz que despertou a atenção do empresário e é essa tradição que faz sempre questão de promover. “A música do Fogo é mais balançada”, diz a cantora, revelando que além de mornas e coladeiras canta sempre estilos específicos da ilha como o talaia-baixo e o robolo. “O talaia-baixo é um choro cantado, é uma forma de manifestar a dor. Mas também pode ser divertido porque permite o improviso, com a introdução de recados para quem está a assistir ou o início de duelos com outros cantores”, explica, lançando o desafio a Ceuzany para a noite de sábado. “Mas ela não consegue”, brinca Neuza, provocando reacção imediata em Ceuzany: “Consigo, sim! O meu pai também é do Fogo”.
A haver algum duelo será sempre amigável. Num mercado tão competitivo como o da música, as duas são a prova de que em Cabo Verde “a união faz a força”. É Neuza, aliás, que interrompe Ceuzany para lembrar que esta está nomeada para o Prémio Revelação RFI (Radio France Internationale) e que este ano já ganhou o troféu de Melhor Voz Feminina nos Cabo Verde Music Awards, pelo disco de estreia Nha Vida.
Em Portugal, a jovem de 24 anos já teve a oportunidade de se apresentar ao vivo várias vezes: primeiro com os Cordas do Sol, grupo que integrou durante seis anos, e em Agosto, já a solo, foi uma das artistas que protagonizou o festival Sol da Caparica. É com orgulho que diz não ter visto nenhum cabo-verdiano entre os milhares que formavam a plateia do seu concerto na Costa da Caparica e é com o peito ainda mais inchado que vê cada vez mais portugueses rendidos à música do seu país.