Três anos passados, esta vespa exótica ganhou terreno e instalou-se em praticamente todo o Litoral Norte. Caminha, Monção, Ponte de Lima, Valença, Viana do Castelo, Braga, Barcelos, Esposende, Terras do Bouro, Vila Nova de Famalicão, Vila Verde e Porto são os 12 concelhos em que foram confirmados e destruídos ninhos deste insecto, segundo dados do Plano de Acção para a Vigilância e Controlo da Vespa Velutina em Portugal (PAVVVP), cuja versão final foi entregue às associações de apicultores e às autarquias no início deste mês.
Os pedidos de ajuda para identificar e destruir ninhos de vespa asiática dão já conta, porém, de que a praga está a avançar para Sul. “Ainda há dias confirmei a presença de uma em Aveiro”, conta Miguel Maia, explicando que as fotos enviadas por um apicultor de uma aldeia daquele concelho não deixam margem para dúvidas: “Era mesmo uma velutina, só ainda não sei se era um macho ou uma fêmea”. O sexo é importante, devido à possibilidade de tratar-se de uma rainha fundadora, à procura de um local para alojar novos ninhos. A sua presença poderá ser sinal, explica o especialista, de que “a infestação já chegou a Aveiro e, portanto, a todo o Litoral Norte”. E “veio para ficar”, avisa.
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Falta de informação
Mas os dados da APIMIL diferem dos da Direcção-geral de Alimentação e Veterinária (DGAV)_ e do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), entidades responsáveis pela coordenação do PAVVVP, noutros pontos.
Segundo a APIMIL – que acusa a DGAV e o ICNF de ignorar os alertas dos produtores de mel desde a detecção da praga e de terem criado um plano “extremamente burocrático”, com “pouca noção do que se passa no terreno” –, a vespa criou, só este ano, “mais de mil ninhos” nos vários concelhos em que se instalou. Só em Guimarães foram detectados pelo menos 37 ninhos, até este mês.
A falta de coordenação a nível nacional é outra das críticas das associações de apicultores. “O plano prevê que sejam as autarquias a destruir os ninhos e a controlar a praga, mas há muita falta de informação. Todas as semanas, recebo pedidos para destruir ninhos. Quando chego ao local, trata-se sempre da vespa europeia”, conta Ildebrando Ferreira, da Associação de Apicultores do Centro de Portugal. “Os apicultores estão muito preocupados com a vespa asiática e alguns pensam mesmo em desistir da actividade”, acrescenta.
Biodiversidade em risco
O PAVVVP prevê que o ICNF centralize a informação sobre a vespa asiática na página www.vespavelutina.pt, com registo dos ninhos de vespa encontrados. “Até ao final de Novembro, o portal deverá entrar em funcionamento”, garantiu ao SOL fonte oficial do organismo.
Entretanto, as abelhas – já ameaçadas de extinção e sem as quais a humanidade deixa de existir, pois são responsáveis pela polinização da maioria das espécies vegetais que servem de base alimentar ao homem – continuam a ser as vítimas preferidas desta vespa. “A vespa velutina é um risco para a apicultura: tem um efeito directo, devido às baixas de abelhas, e indirecto, porque diminui a actividade das abelhas durante a sua presença”, explica fonte oficial do ICNF. Além disso, “esta vespa exótica pode originar a médio prazo impactos significativos na biodiversidade, em particular nas espécies de vespas nativas e nas populações de outros insectos, o que resultará numa menor polinização de espécies da vegetação natural ou cultivada”.
Mas as abelhas e outros insectos não constituem a sua única dieta. Prova disso é o facto de a vespa asiática estar a adoptar um comportamento diferente: “No início, fazia ninhos em pinheiros altos, mas agora está a colonizar árvores de fruto. Quando colocar em causa a vinicultura do Douro, talvez então se tomem medidas drásticas”, ironiza Miguel Maia.
Os bombeiros de Viana do Castelo – onde, recorde-se, uma criança foi há poucas semanas picada depois de um ninho ter caído numa escola – confirmam a alteração de comportamento. “Desde Junho, validámos 467 ninhos de vespa, em zonas urbanas e rurais. Costumam estar em árvores de fruto, elas gostam de açúcar”, explica Paulo Parente, dos bombeiros municipais.
Miguel Maia, da APIMIL, alerta ainda para a necessidade de investir em investigação sobre o comportamento da espécie no território nacional: “Ainda se sabe muito pouco, o comportamento pode ser diferente de região para região. No Norte, é diferente do que adoptou em França (onde a praga foi detectada pela primeira vez na Europa, em 2004). Lá, em Dezembro, já não há ninhos”, explica. O PAVVVP não prevê este apoio. Ao SOL, fonte oficial da DGAV garantiu que “os apicultores estão informados".