A invasão da vespa asiática

“Está tudo infestado. Só no concelho de Viana do Castelo, foram identificados mais de 400 ninhos de vespa asiática”, lamenta Miguel Maia, da Associação Apícola Entre Minho e Lima (APIMIL). Foi precisamente em Viana do Castelo que foi detectada, em 2011, a praga da vespa velutina, uma predadora oriunda da Ásia, com apetite voraz por…

Três anos passados, esta vespa exótica ganhou terreno e instalou-se em praticamente todo o Litoral Norte. Caminha, Monção, Ponte de Lima, Valença, Viana do Castelo, Braga, Barcelos, Esposende, Terras do Bouro, Vila Nova de Famalicão, Vila Verde e Porto são os 12 concelhos em que foram confirmados e destruídos ninhos deste insecto, segundo dados do Plano de Acção para a Vigilância e Controlo da Vespa Velutina em Portugal (PAVVVP), cuja versão final foi entregue às associações de apicultores e às autarquias no início deste mês.

Os pedidos de ajuda para identificar e destruir ninhos de vespa asiática dão já conta, porém, de que a praga está a avançar para Sul. “Ainda há dias confirmei a presença de uma em Aveiro”, conta Miguel Maia, explicando que as fotos enviadas por um apicultor de uma aldeia daquele concelho não deixam margem para dúvidas: “Era mesmo uma velutina, só ainda não sei se era um macho ou uma fêmea”. O sexo é importante, devido à possibilidade de tratar-se de uma rainha fundadora, à procura de um local para alojar novos ninhos. A sua presença poderá ser sinal, explica o especialista, de que “a infestação já chegou a Aveiro e, portanto, a todo o Litoral Norte”. E “veio para ficar”, avisa.

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Falta de informação

Mas os dados da APIMIL diferem dos da Direcção-geral de Alimentação e Veterinária (DGAV)_ e do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), entidades responsáveis pela coordenação do PAVVVP, noutros pontos.

Segundo a APIMIL – que acusa a DGAV e o ICNF de ignorar os alertas dos produtores de mel desde a detecção da praga e de terem criado um plano “extremamente burocrático”, com “pouca noção do que se passa no terreno” –, a vespa criou, só este ano, “mais de mil ninhos” nos vários concelhos em que se instalou. Só em Guimarães foram detectados pelo menos 37 ninhos, até este mês.

A falta de coordenação a nível nacional é outra das críticas das associações de apicultores. “O plano prevê que sejam as autarquias a destruir os ninhos e a controlar a praga, mas há muita falta de informação. Todas as semanas, recebo pedidos para destruir ninhos. Quando chego ao local, trata-se sempre da vespa europeia”, conta Ildebrando Ferreira, da Associação de Apicultores do Centro de Portugal. “Os apicultores estão muito preocupados com a vespa asiática e alguns pensam mesmo em desistir da actividade”, acrescenta. 

Biodiversidade em risco

O PAVVVP prevê que o ICNF centralize a informação sobre a vespa asiática na página www.vespavelutina.pt, com registo dos ninhos de vespa encontrados. “Até ao final de Novembro, o portal deverá entrar em funcionamento”, garantiu ao SOL fonte oficial do organismo.

Entretanto, as abelhas – já ameaçadas de extinção e sem as quais a humanidade deixa de existir, pois são responsáveis pela polinização da maioria das espécies vegetais que servem de base alimentar ao homem – continuam a ser as vítimas preferidas desta vespa. “A vespa velutina é um risco para a apicultura: tem um efeito directo, devido às baixas de abelhas, e indirecto, porque diminui a actividade das abelhas durante a sua presença”, explica fonte oficial do ICNF. Além disso, “esta vespa exótica pode originar a médio prazo impactos significativos na biodiversidade, em particular nas espécies de vespas nativas e nas populações de outros insectos, o que resultará numa menor polinização de espécies da vegetação natural ou cultivada”.

Mas as abelhas e outros insectos não constituem a sua única dieta. Prova disso é o facto de a vespa asiática estar a adoptar um comportamento diferente: “No início, fazia ninhos em pinheiros altos, mas agora está a colonizar árvores de fruto. Quando colocar em causa a vinicultura do Douro, talvez então se tomem medidas drásticas”, ironiza Miguel Maia.
Os bombeiros de Viana do Castelo – onde, recorde-se, uma criança foi há poucas semanas picada depois de um ninho ter caído numa escola – confirmam a alteração de comportamento. “Desde Junho, validámos 467 ninhos de vespa, em zonas urbanas e rurais. Costumam estar em árvores de fruto, elas gostam de açúcar”, explica Paulo Parente, dos bombeiros municipais.

Miguel Maia, da APIMIL, alerta ainda para a necessidade de investir em investigação sobre o comportamento da espécie no território nacional: “Ainda se sabe muito pouco, o comportamento pode ser diferente de região para região. No Norte, é diferente do que adoptou em França (onde a praga foi detectada pela primeira vez na Europa, em 2004). Lá, em Dezembro, já não há ninhos”, explica. O PAVVVP não prevê este apoio. Ao SOL, fonte oficial da DGAV garantiu que “os apicultores estão informados".

sonia.balasteiro@sol.pt