A Associação de Defesa dos Consumidores (Deco) tem recebido queixas relacionadas “com informação menos clara sobre as vantagens e/ou o modo de mudar de comercializador, sobretudo a informação enganosa de que se o consumidor não mudar ficará sem o serviço de electricidade”, adiantou ao SOL fonte oficial da Deco.
A maioria destas reclamações nasce de actos de venda por telefone ou porta-a-porta. Quanto às empresas que somam mais queixas, a Deco sublinha que não há nenhuma que se destaque.
A dupla facturação tem sido outra das 'dores de cabeça' dos portugueses que já passaram para o mercado livre.
Depois de mudar de operador, “continuei a receber facturas do antigo operador”, contou ao SOL um dos visados. Outro cliente acrescentou que demorou entre dois a três meses a resolver a situação. “Só quando fiz queixa na ERSE (Entidade Reguladora do Sector Energético) é que consegui resolver o problema”.
A ERSE garante, porém, que “não existe uma alteração do padrão de reclamações”, apesar do “aumento do número de clientes em mercado livre”.
Cartas, cartazes e descontos
Entre telefonemas, cartas e cartazes, com promessas de descontos até 10%, são várias as estratégias dos operadores para seduzir os consumidores.
A ERSE acompanha o desenvolvimento do mercado através da realização de auditorias e fiscalizações periódicas. Porém, segundo a Deco e as próprias empresas do sector, continuam a ocorrer práticas menos transparentes por parte dos operadores.
Questionados pelo SOL, alguns dos principais comercializadores garantem que têm cumprido as regras. Mas apontam o dedo aos concorrentes.
Fonte oficial da EDP, líder do mercado, assegura que “disponibiliza uma formação intensa para todos os prestadores de serviço que trabalham na angariação de clientes”.
A Galp Energia admite ter conhecimento desse tipo de métodos agressivos por parte de angariadores ao serviço dos concorrentes, “nomeadamente através de queixas que nos são transmitidas por clientes que foram alvo dessas práticas”. “Estes episódios têm servido para reforçarmos as orientações junto da nossa equipa de vendas de que estas práticas não são admissíveis”, acrescenta a petrolífera.
Já o presidente da Endesa, Nuno Ribeiro da Silva, é mais assertivo: “O comercializador de último recurso, EDP Serviço Universal, tem sido abusivamente contundente nas mensagens que transmite aos clientes”.
O responsável relembra o pânico criado junto de muitas famílias no final de 2012, na sequência de uma carta enviada pela EDP aos clientes que “transmitia a ideia que havia que mudar no imediato, até ao final desse ano”.
“Causou uma corrida à passagem de clientes para a EDP Comercial com filas na rua, devido ao medo de ficarem sem luz no final desse ano”.
A afixação de cartazes nas portas dos prédios tem sido outra das estratégias das empresas, nomeadamente da EDP e da Galp. “Fim das tarifas reguladas! É preciso mudar”, é a mensagem deixada pelos comercializadores, sem no entanto fazerem referência à data limite, que depende da potência contratada (ver texto ao lado) – o que para Nuno Ribeiro da Silva mostra a “evidente insinuação e alarmismo que estes comercializadores vêm veiculando”.