Costa tem ainda a vantagem suplementar de chegar à liderança do PS a menos de um ano de eleições, sem o desgaste inerente ao difícil papel de mostrar, na Oposição, que tem propostas e capacidade para fazer diferente e melhor – ou que não tem, como Seguro.
Outro trunfo a que António Costa recorreu, na campanha das primárias no PS, foi não se comprometer com medidas concretas, não avançar alternativas que pudessem ser contraditadas, não se identificar ou distanciar da governação de Sócrates (a não ser em questões laterais ou secundárias), ser o mais vago possível nas ideias e redondo nos discursos.
Mas eis que, à medida que se aproxima a data de subir formalmente à liderança do PS, Costa se tem sentido crescentemente pressionado a tomar posições e a definir-se politicamente. E, só nas últimas semanas, já obrigou o seu líder parlamentar, Ferro Rodrigues, a dar o dito por não dito no que toca ao Manifesto dos 74 e à renegociação da dívida (agora metida na gaveta sem o PS assumir posição, a favor ou contra). No que respeita à privatização da TAP, Costa já passou da oposição total a qualquer venda à possibilidade de privatização parcial.
Sobre a utilização dos fundos europeus, falou erradamente e mal informado, sujeitando-se a ser ridicularizado pelo Governo. E até em Lisboa não resistiu à gafe de afirmar que, em situações críticas, “não existe solução” para as cheias.
Por este caminho, Costa arrisca-se a desbaratar num ápice o enorme capital de vantagem com que parte para as eleições. O melhor mesmo é voltar a seguir o conselho de muitos: fazer-se de morto até Outubro de 2015. Não falar. Se possível, nem aparecer.