Depois das notícias sobre o interesse do fundo Apax de avançar com uma proposta, em conjunto com a CVC Capital e a Bain, surgiu um novo nome que surpreendeu o mercado: Zopt. A holding é detida pela empresária angolana Isabel dos Santos e pela Sonae. E é a principal accionista da Nos, rival da PT.
Em comunicado, a Zopt manifestou “disponibilidade para integrar uma solução, em colaboração com as partes envolvidas, promovendo a defesa do interesse nacional”.
Este anúncio surge oito anos depois de a Sonae ter lançado uma oferta pública de aquisição (OPA) à PT, que fracassou. “Fomos hoje derrotados, mas no próximo domingo volta-se a jogar”. Estas foram as palavras de Belmiro de Azevedo, na altura líder da Sonae. Agora, o seu filho e sucessor, Paulo Azevedo, volta ao jogo, e contra-ataca em equipa com a empresária angolana – também accionista em Angola da operadora Unitel (agora detida pela Oi e também à venda).
Apesar de a Zopt não ter revelado pormenores da sua “solução” para a PT Portugal, fontes ligadas à empresa adiantaram ao SOL que passará por se associar a outros fundos ou empresas. Ou seja, através de um consórcio que apresente uma proposta de compra da dona da Meo.
Oi mantém silêncio
Estas intenções surgem numa altura em que é aguardada uma resposta por parte dos accionistas da brasileira Oi sobre a venda da PT Portugal à Altice. Recorde-se que, no âmbito do processo de fusão entre a PT e a Oi e devido ao buraco de 900 milhões de euros resultante do empréstimo à Rioforte, a PT foi dividida em duas: a PT Portugal e a PT SGPS.
A primeira, transferida para a Oi, ficou com todos os activos 'valiosos' da operadora em território nacional – como o Sapo, as infra-estruturas de telecomunicações e o Meo. Já a PT SGPS, que se manteve cotada em bolsa, ficou com a dívida da Rioforte, empresa do Grupo Espírito Santo que declarou insolvência, e com a participação de 25,6% na Oi. Detém ainda a opção de compra de mais 10% dos títulos da Oi nos próximos seis anos.
Altice, fundos ou Zopt?
Apesar de a sua posição ter diminuído no processo de fusão, os accionistas portugueses têm, através da PT SGPS, poder de veto em qualquer das propostas discutidas em conselho de administração da Oi.
Até ao momento nenhum accionista de peso da PT SGPS se manifestou publicamente sobre a sua inclinação face à oferta da Altice. Mas os pequenos accionistas, sindicatos e trabalhadores não vêem com bons olhos ter a Altice como novo patrão, de acordo com várias fontes ouvidas pelo SOL.
Nos últimos anos, a empresa francesa tem feito várias compras em diversos países. Em Portugal, adquiriu a Cabovisão e a Oni, tendo reduzido dezenas de postos de trabalho. Apesar de os pormenores da proposta entregue à Oi não serem conhecidos, os trabalhadores temem que a Altice siga o mesmo caminho na PT Portugal.
Para a Oi, o objectivo passa por vender o mais rápido possível ao melhor preço, tendo em conta que necessita de capital para investir no mercado brasileiro, que nos últimos meses tem estado ao rubro com várias ofertas de fusões e aquisições.
Por estas razões, várias fontes do sector acreditam que a brasileira prefira vender a PT Portugal a fundos de investimento, em detrimento de outras empresas que actuem no sector das telecomunicações em Portugal.
A oferta da Altice ou da Zopt (que detém a Nos), teria sempre que passar no crivo da Autoridade da Concorrência. O regulador português seria obrigado a impor 'remédios' – uma solução que, até estar concluída, poderá demorar dois a seis meses, segundo explicaram ao SOL outras fontes ligadas ao processo.
A divisão da PT Portugal
A solução da Zopt, de se aliar a outros interessados e ficar com uma participação minoritária, também seria uma forma de contornar as barreiras impostas pela Autoridade da Concorrência. A Vodafone tem sido um dos nomes apontados.
A PT Portugal e a Nos juntas controlam 87% do mercado de televisão, 62% do móvel, 86% do fixo e 85% da internet. Logo, uma eventual proposta a uma voz da Zopt não passaria no regulador. Porém, uma fonte ligada à Zopt disse ao SOL que a holding está disposta a trabalhar com as entidades reguladoras para ultrapassar estas barreiras.
Um dos cenários em cima da mesa passa por dividir os activos da PT Portugal: numa área de negócio comercial (Sapo e Meo) e outra na gestão das infra-estruturas da operadora (como a rede básica de comunicações ou os cabos submarinos).
Esta separação poderá ser feita na proposta inicial a entregar à Oi, ou então posteriormente, depois de a Zopt e os seus futuros aliados adquirirem a PT Portugal.
À Nos, por exemplo, interessaria a componente móvel. O objectivo da Vodafone de reforçar a sua presença no mercado fixo também já foi manifestado diversas vezes pela operadora liderada por Mário Vaz.
Governo não intervém
Já a Isabel dos Santos interessariam os negócios em África. O aparecimento da Zopt como interessada na PT Portugal surgiu, aliás, um dia depois de os accionistas da operadora angolana Unitel terem realizado uma assembleia-geral. Do encontro, saiu um comunicado a sublinhar o descontentamento pelos activos africanos terem passado para a Oi. Além disso, salientaram que, tendo em conta o acordo para-social assinado pela PT e pela Unitel, os accionistas angolanos têm direito de preferência na compra da participação de 25% da PT na operadora angolana.
A divisão da PT Portugal nestas duas áreas vai ao encontro do manifesto divulgado esta semana pelo Público. Diversas personalidades – como Bagão Félix, Francisco Louça, Freitas do Amaral e Manuel Carvalho da Silva – subscreveram um “apelo para resgatar a PT”, em que exigem “das autoridades políticas e públicas uma actuação intensamente activa” na empresa.
O primeiro-ministro, Passos Coelho, já garantiu que o Governo não vai intervir no processo e que espera que este seja “tão transparente e competitivo quanto possível”.