Atrás destes números está um empreendedor nato. José Neves criou a primeira empresa, na área da tecnologia, quanto tinha apenas 19 anos. Aos 20, lança a marca de calçado Six London. Em 2007, aos 33, apercebe-se do potencial de aliar o design ao e-commerce e funda a Farfetch. O nome (do inglês far-to-fetch: demasiado longe para ir buscar) reflecte um pouco a personalidade da empresa. “É uma espécie de Amazon para a moda de luxo de alta gama. Somos uma comunidade de retalhistas de moda”, explica o empresário. Uma curadoria exigente na escolha das marcas e a centralização de todos os serviços são alguns segredos do negócio. “As lojas só têm de nos disponibilizar os produtos para os fotografarmos. Depois, tudo é processado por nós: vendas, logística, pagamento, serviço ao cliente e embalagem. A loja empacota, o nosso distribuidor logístico recolhe na loja e entrega ao cliente final”, conta o CEO da empresa. Hoje, Los Angeles, Nova Iorque, São Paulo e, mais recentemente, o Porto acolhem os escritórios que dão apoio aos diferentes mercados internacionais. Para breve têm prevista a abertura em Tóquio. Destinos que são uma forma de agilizar o triângulo de negócio: Farfetch, cliente e loja.
500 mil dólares em roupa
Esta é actualmente a segunda maior empresa do mundo de venda de artigos de luxo online, apenas atrás da Net-a-Porter. José Neves refere que “92% das vendas, neste sector, acontece em espaços físicos”, mas a explosão dos mercados das compras online jogou a seu favor. Para 2014 tem previsto vender 300 milhões de dólares, o dobro do ano passado. Mostra-se surpreendido com o rápido crescimento da marca, apesar das grandes ambições que sempre teve para o projecto. “Para mim essa possibilidade era apenas de 1%. Mas aconteceu”.
Em Janeiro deste ano teve lugar o primeiro 'dia 2 milhões de dólares', um claro indicador de que o abrandamento da economia pouco tem afectado o mercado dos bens de luxo, do ponto de vista global. “O crescimento nos mercados tradicionais, como Estados Unidos da América, Europa e Japão, menor depois de 2008, foi compensado pelos mercados emergentes como o Brasil, Índia, China e Rússia, que estão aparecer em força. Os nossos retalhistas da Europa sentiram a crise, mas a Farfetch ajudou com clientes de outros cantos do mundo”, refere o empresário. A título de curiosidade, o valor máximo gasto por um mesmo comprador, desde o início da plataforma, ascende a 520.000 dólares, resultado da aquisição de mais de cem vestidos, 30 casacos e 80 pares de calçado. Em média, um cliente gasta 650 dólares por compra no site, valor ao alcance de poucas carteiras. É dos Estados Unidos da América que chega o maior número de pedidos, representando este mercado 28% das vendas. Já Portugal não chega ao 1%. “Se fosse uma empresa portuguesa era mais de 99% exportadora”.
Funcionários procuram-se
Investidores como a Condé Nast International (responsável por publicar revistas como a New Yorker, Wired ou Vanity Fair), a Advent Ventures, a Index Ventures, a Silas Chou e a Vitruvian injectaram na Farfetch, desde 2010, cerca de 100 milhões de dólares. Apesar do perfil internacional da empresa, algumas funções são nacionais, como a engenharia e o desenvolvimento do sistema da plataforma, “100% made in Portugal”, diz José. A empresa, que emprega cerca de 500 trabalhadores por todo mundo (metade deles entre Guimarães e o Porto), tem previsto o aumento dos postos de trabalho. “Estamos a contratar em Portugal. Podem passar a palavra”.
Ricardo Ribeiro trabalha nos escritórios do Porto como administrador de sistemas e comenta que “a descontracção, os momentos de lazer, as refeições disponibilizadas pela empresa e o facto de todos os funcionários pertencerem à mesma faixa etária [entre os 25 e os 35 anos] são factores que proporcionam um bom ambiente”.
As ambições de José Neves, o homem que “vive num avião”, são claras: posicionar a empresa no número um da venda online de produtos de luxo. A concorrente é forte, mas não assusta a Farfetch. “A inglesa Net-a-Porter é o dobro de nós. No entanto tem um modelo clássico: compra às marcas e armazena os produtos. Nós somos um marketplace e trabalhamos com milhares de empresas. Isso permite-nos ser muito ágeis, porque não temos de comprar mercadoria. A nossa ambição é apanhá-los”, conclui, confiante.