O Café de São Bento parece ter sofrido o azar da crise em pleno, mas estes novos locatários, já ali em funções desde Maio, afirmam-se satisfeitos. E ainda salientam a vantagem de o espaço só funcionar ao jantar, como pretendia um dos gerentes, Filipe Nobre, filho de José e Justa, a quem a vida familiar também toma tempo.
A lista está cheia de entradas-petiscos, que podem ser a refeição de quem ali vai e que consistem em especialidades da cozinha tradicional portuguesa, com o toque de Justa Nobre: salada de polvo (muito bem temperada), pimentos padrón (uma piscadela à tradição galega), peixinhos da horta, presunto, queijo terrincho, mais enchidos e queijos vários, pastéis de bacalhau, pica-pau de novilho, mas também de salmão (uma novidade), carpaccio de novilho com rúcula (agora à italiana), pataniscas e pastéis de bacalhau, croquetes de vitela com mostarda portuguesa, peixinhos da horta com maionese de coentros, bilharacos de alheira com salada verde, ovos mexidos com tomate e linguiça e os saudosos pastéis de massa tenra. Para acompanhar, além da lista de vinhos bem seleccionada, há bom vinho a copo, cervejas artesanais, os tão em voga gins e cocktails.
Para este espaço, os Nobre quiseram trazer o conceito 'picar e partilhar', promovendo o convívio à mesa, com bom agasalho gastronómico, mas sem recorrer necessariamente ao clássico garfo e faca de um prato de refeição forte.
No entanto, há pratos mais substanciais, e alguns até feitos para o Estoril: é o caso da sopa de lagosta com gengibre e malagueta (inspirada na sua apreciada sopa de santola do Campo Pequeno, e que sofre talvez de excesso de natas para os tempos que correm), ou dos bifes e meios bifes do lombo com molhos diversos (à portuguesa, natas e cogumelos ou com pimenta). De resto, as opções são variadas: linguado, polvo, bacalhau, açorda de gambas (semelhante à de mariscos do Campo Pequeno), galo do campo recheado de alheira com massa fresca, bochechas de porco com puré de castanhas ou magret de pato.
A decoração, em termos estruturais, é a que ficou do Café de São Bento. Os Nobre trouxeram, com a sua comida, a baixela e as toalhas brancas.
Visita obrigatória para quem gosta de comer bem, e conseguindo aqui preços talvez mais em conta do que no Campo Pequeno.
Uma casa de família
Filipe Nobre, filho de José e Justa, estreia-se no Estoril na peugada dos pais, como um dos sócios desta nova casa, agora cada vez mais ancorada na figura da sua mãe, como se vê pela enorme fotografia da matriarca logo à entrada, do lado de fora. E à frente de sala está Paulo Graça, casado com uma irmã de Justa, Ana, que a apoia nas cozinhas.
Os Nobre, José e Justa (ele na sala, ela na cozinha), que se iniciaram no número 33 da Rua Alexandre Herculano, da família Nogueira Vaz, em 1978, chegaram a marcar de forma decisiva a gastronomia lisboeta dos anos 90, com o Nobre da Ajuda (depois de passar pelo Constituinte, Rua de São Bento, em 1988-90). Deram para o torto uns investimentos na Expo 98, e só voltaram a erguer-se em Lisboa, há uns anos, no Campo Pequeno, no Spazio Buondi.
Ele é um ribatejano de maneiras afáveis. Justa, transmontana, tem o dom da culinária. Paulo, o cunhado, conheceu-os no 33 – e a partir daí entrou na família e nos negócios.
Esperemos que a passagem de Justa pelo primeiro Masterchef da RTP, há 3 anos, com a consequente entrada no mundo mediático (parece que abriu agora uma cadeia de pregos no prato), não venha afectar a boa harmonia que deu ao casal um papel de destaque na gastronomia lisboeta.