‘Bumba na Fofinha’, humor negro das palavras para enfrentar o dia-a-dia

‘Bumba na Fofinha’. Diz-lhe alguma coisa? Não, não é nenhuma expressão obscena, mas sim o nome de uma página no Facebook quem tem dado que falar.

Gerida por uma ‘moçoila em idade casadoira, com estudos e uma boa anca’ que não se quis identificar, esta página analisa os hábitos mais simples do dia-a-dia, apoiando-se no humor negro. Aliás, no “humor de fusão. Como aqueles buffets chineses especializados em tudo”, descreve a sua autora.

O SOL falou com esta mulher e tentou perceber o que a leva a ser  “o saco de boxe” das pessoas e a dar “o corpo às balas”.

Como é quando surgiu a ideia de criar esta página no Facebook?

Começou por ser um hobbie para a minha família. Como sabem a família chegada é acrítica e altamente parcial, o que é excelente para a criatividade, porque saia o que sair aos olhos deles somos sempre uma criança-índigo, um prodígio especial, não menos do que O Eleito. Isso ajudou a começar. 

Porquê o nome Bumba na Fofinha?

Bumba na Fofinha, ao contrário do que o mundo pensa – esta ínfima parcela de mundo que me lê – não tem qualquer sentido maroto. A expressão deve ser vista como um todo, à laia de um sinónimo directo de “incha, porco” ou “toma lá que já almoçaste”. 

Qualquer variação obscena deste título – vulgo ”Bunda na Fofa”, ”Fofa na Bombinha” e outros que tais – já é fruto da imaginação fértil ou da exposição prolongada às nádegas da Nicki Minaj. 

Onde vai buscar inspiração para escrever o que escreve?

Às pessoas (e estou a fazer aquele gesto de braços abertos para o céu com uma expressão contemplativa ao estilo o-mundo-é-a-minha-ostra). Se repararem esta resposta é um autêntico canivete suíço, dá para usar com tudo: a inspiração para um disco, a motivação para abrir uma hamburguería da moda, a coragem para limpar o ralo da casa de banho, “vou buscá-la às pessoas”. 

Como definiria o seu tipo de humor?

É um humor de fusão. Como aqueles buffets chineses especializados em tudo – baratucho, potencialmente indigesto, mas por 7,50€ enche-se o bandulho com sushi, burritos e maminha no churrasco. No fundo é um humor 360º, híbrido, ecléctico e todos aqueles vocábulos que começam em “multi” e acabam em “al” e que querem dizer quase tudo sem significarem quase nada. O meu humor é tudo isto e muito mais. 

O que nos pode revelar sobre si?

Moçoila em idade casadoira, com estudos e uma boa anca (uma “anca parideira”, diria a minha avó, perante as mais variadas audiências – “boa para uma ninhada” – enquanto me dá vigorosas palmadas na coxa). 

Já teve problemas e/ou queixas de seguidores da sua página?

Já tive alguns, mas não dão para a despesa. Quando se tem um blogue medíocre os ressabiados são uma benção, ajudam nas métricas e isso. E do nosso lado ajudamos a canalizar o ódio universal que de outra forma iria parar ao atendimento da Segurança Social, ao guarda-redes do Benfica ou à face da esposa.

E situações mais 'caricatas’?

Uma vez disse que se a Apple lançasse uns chanatos de piscina, daqueles com velcro que fazem réck-réck, seria um sucesso imediato no mundo hipster. Fui publicamente apupada, e pela primeira vez (desde que cantei as Janeiras porta-a-porta na paróquia, em 1997) senti que servi o meu país. As pessoas precisam de um saco de boxe, e há que dar o corpo às balas. 

Esta página é um projecto para continuar? Tenciona expandi-la de alguma forma?

Enquanto Deus nosso Senhor me der saúde – e se Deus quiser dará – continuará, graças a Deus. Mas, não vá o Diabo tecê-las – ou "o dia apetecê-las" como disse erradamente durante 20 anos – já contei aos meus herdeiros como é que isto acaba, para recolherem os dividendos no meu post-mortem e investirem tudinho no Novo Banco (os reclames dizem que o rendimento voltou).

joana.alves@sol.pt