Sublime: O nome assenta-lhe que nem uma luva

Sublime é o nome de um dos mais elogiados pequenos hotéis de charme, na Comporta, que inclui um restaurante, com nome já sólido, e que foi este ano convidado para servir as refeições na Casa Lisboa.

Proprietários do Sublime: o piloto da TAP Gonçalo Pessoa, 40 anos, e a sua mulher Patrícia, 38.

Para a cozinha do restaurante, foram 'biscar' o jovem David João, 24 anos, que já passara pelo Eleven de Joachim Koerper e pela Herdade da Malhadinha (mais conhecida pelos seus óptimos vinhos, mas que pratica também o turismo rural, com Vítor Claro na cozinha).

O Sublime propõe uma cozinha totalmente mediterrânea, em que se salientam os sabores portugueses, numa apresentação contemporânea. Serve apenas um menu de degustação, com quatro pratos e sobremesa, por 45 euros, fora as bebidas.

Para a Casa Lisboa trouxeram o chefe e a sua comida, mas um serviço um tanto simplificado: o menu degustação tem apenas dois pratos (entrada e principal), mais sobremesa, e a lista permite uma escolha entre três propostas de cada. Os vinhos é que se resumem aos da Herdade da Comporta, como patrocinadora do projecto. Na minha subjectivíssima opinião, os vinhos da Comporta não me entrariam nas escolhas, apesar de beber bem os brancos, e aceitar que o seleccionado Parus (topo da gama) é um tinto satisfatório. 

O andar de cima do Palácio Iglésias, onde funciona o restaurante, tem uma vista soberba para a velha Baixa lisboeta, pelo que os janelões do espaço constituem parte essencial do ambiente. O resto da decoração é de Câncio Martins (actualmente o mais famoso designer de interiores português), e que talvez pela efemeridade do local não aposta numa solução tão luxuosa e cara como são exemplos outras suas obras (por exemplo, o restaurante Largo, junto ao Teatro São Carlos). Ainda assim, a madeira crua das mesas corridas é muito bem aproveitada, em contraste com o conforto das modernas cadeiras de braços. Nas paredes, sobressai um lambril alto, com uma grossa tira de espelho entre duas de cortiça.

Mas é na cozinha que se vê o sublime do restaurante. Nas entradas, provei uma sopa de puré de castanhas com vieiras, que resultava magnífica, e uma belíssima salada de bacalhau, em que o peixe seco estava em boas lascas confitadas e frias, sobre uma cama de puré de grão. Dos segundos, atesto um extraordinário risotto de caldeirada (num ponto perfeito, em que se notava mesmo o sabor a caldeirada, e com uma posta de garoupa muito fresca); e ainda umas fantásticas bochechas de porco, com puré de aipo.

Nas sobremesas, um leite creme com frutas e um bolo de chocolate delicioso, húmido, sobre uma bolacha, com gelado.

Até dia 23, é possível saboreá-lo em Lisboa. Depois, só mesmo na Comporta, num ambiente seguramente mais paradisíaco, e a convidar a ficar. 

Casa Lisboa

A Casa Lisboa constitui uma interessante exposição de design de interiores, com a apresentação de propostas concretas e aplicadas, por todo o Palácio Iglésias, numa esquina do Largo da Academia de Belas Artes, ao Chiado. Ali se propõe aos designers (o mais conhecido que aqui se apresenta é o mais famoso e internacional dos actuais portugueses, Miguel Câncio Martins, residente em Paris) e fornecedores de material presentes que decorem espaços concretos, como se de um hotel se tratasse, para funcionarem também como montras.

A Casa Lisboa surgiu em 2002, como iniciativa anual (este ano, está aberta até ao próximo dia 23), e chegou a coexistir com outras duas iniciativas semelhantes, a Casa Decor e a Casa Ideal. Em 2009, a crise levou-as a todas.

Mas este ano ressurgiu em força a Casa Lisboa (que em edições anteriores passou, entre outros, pelos palácios Valle Flôr, Conceição e Silva, Ribeiro da Cunha – e ainda pela anterior sede do Expresso, ao Marquês de Pombal), pela mão do seu empreendedor, João Silva, dedicado ao imobiliário. E que tem já um projecto de recuperação do edifício, com a sua divisão em seis modernos apartamentos, sob o nome Palácio das Belas Artes.

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