“Tenho uma dívida de gratidão com Vítor Bento por ele ter ficado naquele fim-de-semana [2 e 3 de Agosto] à frente do BES”, referiu Carlos Costa no Parlamento, acrescentando, no entanto, que “houve um mal-entendido” com a duração do projecto. “Vítor Bento projectou um horizonte temporal mais alargado do que o Fundo de Resolução previa”, explicou, revelando que o gestor pediu por duas vezes para sair e aceitou ficar, numa situação difícil.
“Não sou pessoa para ignorar as dificuldades da operação. Temos que estar gratos a quem assegurou a transição e à nova equipa [liderada por Eduardo Stock da Cunha]”, disse Carlos Costa.
Decisão “política” gera confusão
A decisão sobre a intervenção sobre o BES foi também amplamente discutida. Carlos Costa começou por assumir que o BdP pode apenas emitir pareceres e que “a decisão [de resolução] foi política”, acrescentando que, tal como já tinha referido, foi a “única solução possível em tempo útil”.
Confrontado depois pelos deputados sobre o carácter político da decisão, Carlos Costa recuou e garantiu que a decisão foi totalmente da responsabilidade do BdP. “Confesso que depois de seis horas posso ter-me confundido. Mas se em algum momento falei em decisão política foi inconsciente. Referia-me à recapitalização com dinheiros públicos. Para o bem e para o mal, esta foi uma decisão [a resolução do BES] tomada pelo Banco de Portugal.”
O governador garante que a estabilidade do sistema financeiro foi garantida. “Tivemos um Agosto tranquilo. Foi o melhor que nos podia ter acontecido”, afirmou. Depois de ser aplicada a resolução, Carlos Costa disse ser natural o “Novo Banco demorar algum tempo a ajustar-se”, mas neste momento a instituição liderada por Eduardo Stock da Cunha “já está a ceder crédito à economia”. O governador acredita num processo de alienação transparente e que a perda para os bancos do Fundo de Resolução seja a “menor possível”.
Quanto à garantia pública de 3,5 mil milhões de euros a que o antigo BES recorreu, à semelhança de outras instituições bancárias, para garantir a emissão de obrigações, Carlos Costa afirmou não estar em condições de garantir que o reembolso esteja assegurado em 2015. “É uma situação que termos que avaliar. Nós, o ministério das Finanças e o Novo Banco, à luz do enquadramento europeu”.
Idoneidade de Ricciardi em avaliação
O governador foi questionado sobre a permanência de José Maria Ricciardi na presidência do BES Investimento (BESI), quando a família Espírito Santo foi afastado da gestão da casa-mãe. Carlos Costa refere que o banqueiro foi afastado, tal como os restantes membros da família, do BES. “Todavia, tal não significa que o processo de reavaliação da idoneidade não seja um processo permanente e veremos a seu tempo as conclusões.”