‘Ela pode ser um longo beijo apaixonado, um divã de psicanalista ou um tiro de revólver’

A primeira vez que ouvi falar sobre a máquina fotográfica Leica (pronuncia-se [´laika]), achei que havia algo em comum com a famosa cadela Laika que orbitou a terra a bordo da nave Sputnik. Não poderia imaginar que o nome da lendária máquina que este ano completa 100 anos, veio de uma abreviação das três primeiras…

‘Ela pode ser um longo beijo apaixonado, um divã de psicanalista ou um tiro de revólver’

Leica foi uma lenda nas mãos de fotógrafos como Henri Cartier-Bresson, Alexander Rodchenko, Robert Frank, Robert Capa, André Kertész, William Klein e tantos outros que a consideravam como uma extensão do corpo deles.

Mas o que é que torna a Leica uma máquina singular? É uma máquina fotográfica simples, que leva o que é estritamente necessário, combinando a inteligência dos fabricantes, a qualidade dos materiais, a autenticidade e a máxima eficácia. O seu pequeno tamanho, a forma silenciosa de fotografar, a inexistência de espelhos e, sobretudo, a sua divinização às mãos de grandes fotógrafos, tornaram-na num objecto fetiche.

Cartier-Bresson deu-lhe uma clássica definição: “Ela pode ser como um longo beijo apaixonado, um divã de psicanalista ou um tiro de revólver. Podes fazer tantas coisas com uma Leica”.

Portugal tem uma razão para se orgulhar: faz mais do que 40 anos que em Lousado, concelho de Vila Nova de Famalicão, se encontra a única fábrica da Leica fora de Alemanha e onde se fabricam máquinas fotográficas, binóculos e miras, de forma quase exclusivamente manual.

Na margem das comemorações do centenário da máquina, no dia 14 de Novembro será inaugurada a Leica Gallery em São Paulo, seguindo o exemplo de Frankfurt, Wetzlar e Zingst, na Alemanha, Praga, Varsóvia, Salzburgo, Viena, Milão, Nova Iorque e Los Angeles, Tokyo, Kyoto e Singapura.

Nesse contexto, a agência de publicidade brasileira F/Nazca Saatchi & Saatchi criou um vídeo de 2 minutos que presta homenagem aos cem anos deste ícone, recriando 35 fotografias célebres que representam a história da fotografia e sensibilizaram o mundo, como por exemplo o beijo clássico na Times Square de Alfred Eisenstaedt, John Lenon e Yoko Ono fotografados para a capa da Rolling Stone por Annie Leibovitz, ou a mãe migrante de Dorothea Lange.

Mas na Alemanha não poderia faltar um evento grandioso sobre a Leica: em Hamburgo, no Deichtorhallen – Centro de Arte Contemporânea e Fotografia, foi inaugurada no dia 24 de Outubro e ficará patente até o dia 11 de Janeiro de 2015, a exposição EYES WIDE OPEN! 100 YEARS OF LEICA PHOTOGRAPHY que tenta oferecer uma visão abrangente da mudança na fotografia que a invenção da Leica provocou.

Auto retrato com Leica de Stanley Kubrick para a Look Magazine

Além de 500 fotografias de 140 fotógrafos, e, entre eles o português Paulo Nozolino, está exposto material técnico e documental que conta a história da fotografia de pequeno formato, desde os seus primórdios até hoje. A exposição está dividida em 14 capítulos, sendo surpreendente o espaço dedicado a Espanha e Portugal.

Infelizmente, a Leica passou mas não ficou nas minhas mãos. Em Moçambique, tive, várias vezes, a oportunidade de experimentar trabalhar com uma emprestada mas vai continuar a ser um sonho para mim. Quem sabe se tenho que esperar mais cem anos até adquirir este objecto!

* repórter fotográfico do SOL