Só há estrelas à noite

O convívio e a proximidade que a noite proporciona leva-nos a sonhos e expectativas que por vezes não passam de meras ilusões. Vejo isso nos meus amigos mais próximos e reflecte-se nos restantes.

Um acha que todas as miúdas olham para ele na pista de dança, engendra esquemas mirabolantes dentro da própria cabeça para justificar todo e qualquer fortuito cruzar de olhares e até inventa discussões entre namorados por supostamente ela não parar de o fitar.

Outro acredita que dada a sua posição profissional todos o reconhecem e olham com desejo e interesse, posição que lhe confere alguma arrogância na postura e alguma esquisitice na selecção que faz. Ao invés, conheço também quem ache que não se passa nada. Por mais que alguém se ponha à frente dela e a agarre, é tudo imaginação de quem lhe comenta esse facto por piada.

É este contacto permanente muitas vezes não físico, mas sensorial e psicológico, que determina muitas vezes o desfecho de uma saída, até porque no nosso país não raras vezes as pessoas saem para conhecer alguém e afastar aquela solidão e o sentimento de inferioridade por não terem ninguém.

A noite alimenta-se de egos, de posturas e de atitudes que muitas vezes escondem depressões, vidas desinteressantes e casos mal resolvidos. É por essa razão que muitos só são estrelas na escuridão por intermédio de copos ou pelo engano de quererem mostrar algo que não têm só para cativar aquele que lhes despertou o interesse seja por que razão for.

O problema é o dia seguinte, sempre o dia seguinte. Quando é preciso algo mais para alimentar o que se começou, quando é preciso estar à altura do que se quis passar. Estabilizar, conviver e perceber, dia após dia, que não se pode ter tudo e que ser coerente custa, dar algo mais para ultrapassar a monotonia galopante, estar disposto a abdicar para conquistar. Este é o mistério por resolver após o primeiro fitar de olhos à noite…