O avanço de Pedro Filipe Soares, afecto à UDP de Luís Fazenda, para disputar a coordenação dos bloquistas com Catarina Martins e João Semedo, abriu feridas que serão aprofundadas com a inevitável partilha de poder. E pode até haver mais moções a entrar na Comissão Política. “O BE vai ficar ingovernável, seja qual for a liderança”, antevê um fundador do partido ao SOL.
A moção de Filipe Soares chega à convenção com o apoio de 262 dos 617 delegados (42%), ligeiramente à frente dos 256 delegados da moção de Catarina Martins e Semedo. Nenhuma terá maioria absoluta, antecipa-se. Para complicar, além das duas moções principais, outra das cinco moções tem condições para meter um elemento na direcção. A moção B ('Refundar o Bloco na luta contra a austeridade'), que elegeu 44 delegados, pode vir a a influenciar a gestão política do BE, afastada que está a possibilidade de uma só moção concentrar a maioria dos votos.
Acordo pode afastar minorias
Mas porque os estatutos do partido não consagram o número de elementos que compõem a Comissão Política – actualmente é constituída por 15 – há especulações sobre um 'casamento' entre as duas moções mais votadas para afastar as minorias da decisão política, apurou o SOL. Para isto, bastará reduzir para 10 o número de elementos eleitos.
Entretanto, a regra da proporcionalidade na Comissão, proposta por Soares e aprovada na última Mesa Nacional, será votada novamente na Convenção. Catarina Martins e João Semedo votaram contra e deverão manter o sentido de voto. Mas a regra deve ser confirmada.
Rumo à sobrevivência
O conclave bloquista será o primeiro em que estará em jogo a direcção do partido. Desde 1999 que as três tendências fundadoras – PSR, de Francisco Louçã, UDP, de Luís Fazenda, e Política XXI/Manifesto, de Miguel Portas – governam o partido, em coligação.
No debate político-ideológico, a convenção bloquista terá um assunto central: a demarcação face ao PS. Há quem preveja “uma competição sobre quem fala pior do PS e de Costa”. A inversão das perdas eleitorais e o caminho para a sobrevivência serão tratadas em duas das intervenções mais aguardadas: Francisco Louçã e Luís Fazenda, os dois 'pais-fundadores' que agora surgem em lados opostos da barricada.
*com Manuel A. Magalhães