Li numa entrevista sua que ainda não se habituou a tocar em festivais. Porquê?
Muitas vezes, sinto que a minha música não faz sempre sentido num festival. Não toco rock cheio e a força da minha actuação é o facto de ser muito íntima e pessoal. A par disso, também é muito difícil tocar para multidões que normalmente estão é prontas para a festa. É algo com que não lido bem porque distraio-me com muita facilidade.
Uma vez que hoje em dia os festivais predominam, como planeia lidar com isso no futuro?
Os festivais representam o que é mais popular, não acho que sejam fiéis ao que se passa realmente na música pelo mundo fora. Mas há uma série de festivais, como este em Lisboa, mais cuidados, que procuram ser eventos únicos, com curadorias mais pensadas, que se tornam mais especiais. Devia é haver muito mais festivais assim.
Prepara de forma diferente uma actuação num festival ou num concerto em nome próprio?
Tenho a preocupação de fazer uma actuação mais dinâmica. As baladas e canções ao piano não costumam entrar tanto, mas também depende tudo muito do espaço onde tocamos. O set pode mudar de dia para dia.
Fica surpreendida se souber que grande parte do público que vai ao Vodafone MexeFest quer vê-la?
Absolutamente!
Porquê? Ainda não se habituou ao sucesso?
Sinto-me muito sortuda por ver o meu público crescer, poder continuar a gravar discos e fazer digressões, mas para mim é realmente difícil entender onde cheguei. Nunca espero ter muitas pessoas num concerto numa cidade onde raramente vou e não conto com a comunicação social para encher concertos. Sei é que tenho de trabalhar muito para a minha música chegar a mais gente.
Tramp (2012) foi bastante acarinhado pela crítica e pelo público. Sentiu essa pressão ao compor Are We There?
Não, nunca sou pressionada a criar um trabalho. A única pressão para escrever vem de mim própria, mas de uma forma saudável e produtiva. Nunca estou satisfeita enquanto não deito qualquer coisa cá para fora e a escrita é a minha principal forma de o fazer. Descobri como comunicar durante o processo de gravar um disco ao trabalhar com Aaron Dessner [The Nacional], que produziu Tramp. Ganhei confiança a tocar ao vivo essas canções e ao actuar com a minha banda. Chegámos tão longe que quis mostrar-lhes o respeito que tenho por eles ao trazer para estúdio a relação que construímos na estrada e resolvi produzir sozinha Are We There.
As canções de Are We There são sobre vida pessoal versus carreira. Foi um dilema que enfrentou?
É um álbum muito pessoal. Estar nove meses por ano longe de casa e ter uma relação amorosa foi impossível e contribuiu para levantar questões que nunca tinha pensado antes. Percebi que estava a fazer infeliz alguém de quem realmente gostava. Se não estamos fisicamente disponíveis para quem precisa desse tipo de presença é injusto mantê-lo pendurado.
Lida bem com a decisão que tomou?
Tive um desgosto de amor e também provoquei um desgosto a outra pessoa. Mas estou a recuperar e espero que ele também esteja. Espero que encontre outra pessoa com uma vida mais compatível com a sua.
Como se consegue partilhar algo tão íntimo com o mundo inteiro?
Escrevo quando estou num lugar escuro e, durante esse processo, tento compreender o meu coração e a minha mente. Quando estou a atravessar este tipo de problemas sentimentais não sou boa comunicadora e, por mais difícil que seja partilhar isto ao vivo, de certa forma tem ajudado.
'Your Love Is Killing Me' – com frases como 'break my legs so I won't walk to you; cut my tongue so I can't talk to you; burn my skin so I can't feel you' – é uma canção muito forte. Em que estado de espírito a escreveu?
Escrevi essa canção quando tive de me decidir por uma relação ou uma carreira. Também foi nessa altura que percebi que podemos amar muito alguém, mas isso não tem a mínima importância se for algo destrutivo. Por isso, quando escrevi as letras deste disco, e em particular essa, sabia que tinha de ser exigente e implacável.
Diz muitas vezes que a música é a sua terapia. Escrever uma canção cura mesmo a dor?
Sim, vezes sem conta… Sou bastante introspectiva e escrevo sempre com a motivação de quem quer ficar melhor. Se isso for moralmente edificante para alguém, melhor ainda.