Anjelica Huston e Brooke Shields: Íntimo e pessoal

Anjelica Huston publica o segundo volume das suas memórias, Watch Me, no qual lembra não só a sua carreira e o seu pai, John Huston, como recorda a relação de quase duas décadas com o actor Jack Nicholson. Também Brooke Shields lança uma autobiografia, na qual se debruça sobre a sua relação com a mãe,…

Foi aos 21 anos que Anjelica Huston conheceu Jack Nicholson. A actriz tinha acabado uma relação e, para curar o desgosto, havia-se mudado de Nova Iorque para um rancho na Califórnia, propriedade de Cici, a então mulher do seu pai, o realizador John Huston. Pouco depois, Cici foi à festa de aniversário de Nicholson, na sua casa. E fez-se acompanhar da enteada. Anjelica e Jack dançaram toda a noite e a actriz decidiu lá ficar a dormir. Foi o início de uma relação amorosa que duraria quase 20 anos. E da qual a actriz conta vários detalhes no segundo volume da sua autobiografia que acaba de editar, Watch Me – A Memoir (no primeiro, A Story Lately Told, Huston narra a sua infância passada na Irlanda e a adolescência em Londres).

Claro que, no livro, nem tudo se reduz à relação com Jack Nicholson. Anjelica é uma das mais respeitadas actrizes de Hollywood. Nestas memórias vai recordar o seu percurso: desde o início da carreira à ascensão ao estrelato, passando pelo trabalho com realizadores como Woody Allen, Wes Anderson e Francis Ford Copolla, e as personagens míticas que interpretou, como Maerose Prizzi em Prizzi’s Honor, Morticia Addams nos filmes de A Família Addams ou Etheline Tenenbaum em The Royal Tenenbaums.

Mas é o lado íntimo e pessoal o que desperta mais o interesse do público. Sabendo-o, foi isso que a autora destacou no resumo que fez do livro para a edição de Dezembro da revista Vanity Fair. Aí, partilha vários episódios com os leitores, desde o dia em que conheceu Jack, até ao momento em que percebeu que este não era o homem mais fiel do mundo. «Apesar de Warren Beatty ser um dos seus melhores amigos eu não via Jack como um grande conquistador. Por mais prolífico que possa ter sido sempre foi muito discreto», conta, lembrando que, gradualmente, começou a ver peças de roupa ou jóias femininas na casa do namorado. Quando finalmente percebeu que Jack não era, de todo, um homem fiel, não soube o que fazer, aceitando as infidelidades. Mesmo quando pensava em casamento.

«O tema do casamento surgiu várias vezes na minha relação com Jack, mas nunca sentimos essa necessidade ao mesmo tempo. Ao longo dos anos, o gestor e o agente de Jack encorajaram-nos várias vezes a casarmo-nos, possivelmente porque viam nisso a hipótese de Jack poupar imenso dinheiro em impostos. Era uma ideia muito pouco romântica. Além disso, era uma filha dos anos 60 e, até certo ponto, encarava o casamento como uma forma de submissão. Às vezes gostava da ideia mas normalmente, temia-a», escreve a actriz lembrando uma tarde, em 1986, em que, depois de várias margaritas com as amigas, acabou por ser convencida por estas de que estava na altura de subir ao altar. Foram para casa do casal e, quando Jack chegou, Anjelica disse-lhe estar pronta para o grande passo. «Estás a falar a sério?», questionou-a Jack. «Desfiz-me em lágrimas e fui-me embora. Foi humilhante », lembra. Procurou conforto junto do pai que, na altura, estava internado num hospital a ser tratado a um enfisema. «‘O que se passa, querida?’, perguntou o meu pai. Comecei a chorar. ‘É o Jack, é infiel. Magoa-me. Não consigo viver com isso’. O meu pai olhou-me exasperado, como se estivesse a lidar com uma criança de quatro anos. ‘Pára de chorar’, disse, abanando, incrédulo, a sua cabeça. ‘É um disparate. Os homens fazem-no – não significa nada. Porque é que te importas?’. Furiosa, virei-me contra ele. ‘Pai, quão insignificante é sentir-se desprezado? Porque é assim que qualquer mulher se sente quando é traída».

John Huston está, de resto, muito presente no livro, onde Anjelica recorda, até, a noite da sua morte. Tinha estado a jantar em sua casa e, quando se quis ir embora, o pai pediu-lhe que ficasse mais um pouco. Anjelica recusou, tinha que trabalhar de manhã. Ao amanhecer, a mulher do pai ligou-lhe. «Foi depois de teres saído. Ele ficou inquieto. Perguntei-lhe se queria um médico, disse que não. Recusou que lhe chamasse uma ambulância. Disse que estava cansado. Deitou-se e perguntou: ‘Tens as espingardas?’ ‘Sim, John, temos muitas armas’. E ele disse, ‘Temos munições?’, ‘Sim, John, temos imensas munições’. E então ele disse ‘Vamos atacá-los com tudo’. Essas foram as suas últimas palavras».

Não foi este o último desgosto de Anjelica. Dois anos depois, ao jantar, Jack soltou a bomba à sobremesa: tinha engravidado outra mulher e ia assumir a u paternidade da criança. Anjelica decidiu que não queria prolongar a relação. Abraçaram-se e afastaram-se. Dias depois, a fúria chegou. Foi ter com Jack e esmurrou-o várias vezes. Jack disse-lhe: «‘Bolas, acertaste-me. Estou todo negro’. ‘Mereceste’. E rimo-nos». A amizade dura até hoje.

Um segredo obscuro

E Anjelica Huston não foi a única a publicar as suas memórias mesmo a tempo do Natal. A antiga modelo e actriz Brooke Shields também se dedicou a escrever a sua autobiografia. There Was a Little Girl: The Real Story of My Mother and Me chegou às livrarias a meio de Novembro e não pára de dar que falar. Desde logo pelo facto de Brooke não ter tido uma típica infância suburbana.

Filha única de Teri, uma mãe solteira nova-iorquina apaixonada pelo mundo do espectáculo, Brooke começou a trabalhar como modelo ainda bebé, graças aos talentos de Teri como sua agente. Aos 11 anos estava já a protagonizar aquele que considera ter sido o mais belo filme da sua carreira, Pretty Baby, no qual Brooke interpretava uma prostituta infantil. Até hoje, muitos criticaram a sua mãe por ter permitido, ou mesmo incentivado, Brooke a fazê-lo, para o que a jovem actriz se viu obrigada a exibir uma sensualidade incómoda numa criança.

Mas Brooke não se revê nas muitas críticas feitas à mãe. Antes pelo contrário: considera que essa foi uma aposta ganha por parte da mãe e tem orgulho no trabalho que fez.

E, apesar de parecer que a mãe a hiper-sexualizou desde tenra idade, a actriz é peremptória: foi graças à mãe, que a manteve longe de romances, que se manteve virgem até aos 22 anos, altura em que começou a namorar com o actor Dean Cain, então estudante na Universidade de Princeton.

Mas nem tudo o que a actriz de A Lagoa Azul conta no livro são histórias de encantar. Havia, efectivamente, um lado negro em Teri: era alcoólica. E foi com esse segredo que Brooke cresceu. Agora relata em livro como tudo aconteceu, narrando histórias e sensações que só processou enquanto adulta. «Vivi com uma mãe alcoólica e era filha única. Isso moldou-me. Tornou-se o principal nas nossas vidas. Mais importante que Hollywood». Agora está tudo contado e impresso, para todos os que quiserem ler.

rita.s.freire@sol.pt