Doentes querem fundo de apoio

As vítimas do surto de legionella, detectado em Vila Franca de Xira, preparam-se para pedir ao Governo a criação imediata de um fundo de apoio. O objectivo, adiantaram ao SOL, é ajudar os que devido à doença ficaram numa difícil situação económica.

“Temos aqui casos de graves, de pessoas que ficaram impedidas de trabalhar porque estão internadas e de quem dependente o sustento da família e que precisam de ajuda imediata”, justifica José António Gomes, presidente da junta de Freguesia de Vialonga, explicando que muitas são pagas a recibos verdes, não tendo, por isso, direito ao subsídio de doença suportado pela Segurança Social. Segundo o autarca, há também situações de pessoas que perderam o emprego (não lhes sendo renovado o contrato), por terem ficado em casa a tratar de familiares. 
Estas e outras situações levaram a que anteontem ao final da tarde, alguns moradores das freguesias mais afectadas pelo surto da bactéria em Vila Franca de Xira – Forte da Casa, Vialonga e Póvoa de Santa Iria – se reunissem para tomar uma posição conjunta. E no final, os cerca de 30 moradores, entre doentes que já tiveram alta e familiares de pessoas que continuam internadas, consideram ser urgente ter ajuda do Estado. “Vamos pedir ao ministro da Saúde e ao primeiro-ministro a criação deste fundo de apoio, pois as indemnizações em tribunal podem arrastar-se”, diz o autarca, esclarecendo que o pedido deste “subsídio temporário” será formalizado pela autarquia. 

No encontro de quarta-feira ficou também acordado que todos os que foram infectados vão pedir para se constituírem assistentes no processo de inquérito que corre no Departamento de Investigação e Acção Penal da Comarca de Lisboa Norte – Vila Franca de Xira e que investiga se houve crime ambiental na libertação de legionella pelas torres de arrefecimento da fábrica da ADP – Fertilizantes. 

O impacto deste surto, que foi considerado extinto há mais de uma semana, está ainda a ser avaliado pelas autoridades de saúde. Mas nos últimos dias, o número de infectados com legionella voltou a crescer e já ultrapassa os 350. É que apesar de não haver novos casos, continuam a chegar à Direcção-geral da Saúde (DGS) notificações atrasadas de doentes que foram contagiados antes de o surto ter terminado.

“São situações que ainda não tinham sido notificadas devido ao grande volume de trabalho dos médicos, que estavam focados no tratamento dos doentes”, explica ao SOL  fonte da DGS, que terá recebido desde o final da semana mais de dezena e meia de comunicações de casos de infecção com a bactéria.

Todas estas notificações, bem como os casos já conhecidos, estão a ser passados a pente fino pelos especialistas da DGS, que esperam ter dados mais concretos no final do dia de hoje. O objectivo é reunir o máximo de informação possível sobre o surto, que já é o mais mortífero do mundo: os dez mortos nacionais ultrapassam os sete registados nos surtos do Reino Unido e do Japão, em 2002.

Peritos com novas dúvidas

Mas estes diagnósticos atrasados estão também a criar novas dúvidas aos epidemiologistas, como a de quem foi, afinal, o primeiro doente a ser infectado, ou seja, o que as autoridades chamam “doente zero”. Segundo o SOL apurou, entre os casos que só agora chegaram ao conhecimento da DGS está o de um motorista que vive no município de Vila Franca de Xira e foi diagnosticado a 12 de Outubro – quase quatro semanas antes do pico da doença. Este doente nunca chegou a ser internado, pois teve uma pneumonia menos grave e foi tratado com antibióticos em casa.

Até agora, as autoridades de saúde suspeitavam que o primeira pessoa infectada tinha sido um homem do Porto que esteve pela última vez em Vila Franca de Xira a 18 de Outubro. “Ainda é cedo para ter certezas sobre quem é o doente zero. Precisamos de mais informação sobre este caso diagnosticado a 12 de Outubro”, adiantou ao SOL a mesma fonte, acrescentado que o primeiro doente é fundamental para perceber, exactamente, quando é que a exposição à legionella começou.

joana.f.costa@sol.pt