Vítor Bento: Esquema do Grupo Espírito Santo “dificilmente seria apanhado”

Vítor Bento arrisca um comentário subjectivo: “Aquilo que tem sido apontado como a fonte do desequilíbrio [esquema de financiamento das empresas do grupo através da venda de obrigações com promessa de recompra] dificilmente teria sido apanhado antes, mesmo pelas entidades de supervisão. É um juízo subjectivo, mas estou perfeitamente convencido disso”.

Vítor Bento: Esquema do Grupo Espírito Santo “dificilmente seria apanhado”

Num exercício teórico, o economista explicou aos deputados como pode funcionar um esquema idêntico ao utilizado pelo BES e que está agora sob investigação, detalhando como funcionava a  colocação dos títulos junto de vários clientes e as mais-valias ou prejuízos obtidos.

“As taxas das obrigações que estavam a ser compradas eram diferentes das taxas que estavam a ser emitidas. Começaram a aparecer situações dessas.”

Vítor Bento revela que determinou, poucos dias após ter chegado ao BES, uma auditoria para avaliar a situação, o que obrigou a constituir provisões nas contas de junho de 2014.

“Enquanto houver clientes interessados é sempre possível passar obrigações de um cliente para o outro. Se a solvabilidade do banco suscitar dúvidas, então poderá haver menos pessoas interessadas em comprar do que vender.”

Recapitalização privada

Na comissão parlamentar de inquérito à gestão do BES, o economista revela que “não houve tempo” para avaliar a disponibilidade de potenciais investidores privados em recapitalizar o banco.

Quando assumiu a liderança do BES, substituindo Ricardo Salgado, Vítor Bento recebeu do Banco de Portugal a garantia de que a “recapitalização estatal estaria disponível caso fosse necessário”. “Era um chão mínimo com que eu teria de trabalhar”, assume o gestor. “Não esteva na minha mente que o cenário de resolução pudesse ser uma solução.”

O economista recorda que existiam vários fundos de investimento que tinham manifestado interesse em participar na capitalização do BES. “Não tenho ideia se houve desistência de interesses. Esse interesses teriam de ser concretizados. Não houve tempo de prosseguir as negociações, as explorações e as conversas. O interesse era condicional. Não sei se chegada a hora da verdade continuariam lá ou não.”

Além dos fundos de investimento, houve um banco a manifestar interesse. No entanto, Vítor Bento adianta que “a proposta era pouco substanciada e até pouco interessante para o banco”.

Vítor Bento assume que o tempo disponibilizado pelo Banco de Portugal (2 dias), para o desenho de um plano de recapitalização do BES, era irrealista. “Era materialmente impossível dar cumprimento até ao dia 31 aquilo que nos era pedido. Em lado nenhum é possível fazer um plano com essa dimensão em apenas dois dias.”

sandra.a.simoes@sol.pt