Questionado a propósito de um contrato de gestão que salvaguardava o desafio que iria enfrentar no BES e que previa uma eventual indemnização perante uma situação de incumprimento, Vítor Bento esclareceu o assunto após tecer algumas acusações.
“Tenho sido vítima de notícias mal-educadas nos jornais […] há várias manobras para desviar a atenção do que é essencial”, acusou.
A equipa de Vítor Bento estava em minoria no conselho de administração quando entrou no BES em Julho. “Era um outsider.” Por isso, o economista pediu a um advogado um contrato para acautelar as funções de gestão que iria desempenhar no BES. “Foi apresentado um draft […] Foi criada uma cláusula de penalidade, como acontece em todos os contratos, que previa uma indemnização.”
As notícias que têm vindo a ser “plantadas” nos jornais abordam o tema como se o seu objectivo fosse apenas “receber a indemnização”, acusa o economista com indignação.
Os acontecimentos no BES precipitaram-se, refere. “Tive uma entrada apressada no BES e o contrato não chegou a existir”, apesar das insistências do advogado.
BES é “um bom banco”
O economista, que presidiu ao BES e Novo Banco durante cerca de dois meses, rejeita caracterizar o BES como uma “má” instituição.
Pelo contrário, garante: “O BES foi um bom banco, mas foi usado para fazer coisas menos próprias”.Vítor Bento refere ainda que nunca teve dúvidas da qualidade dos quadros do BES e do Novo Banco.
Para que existem offshores?
Perante a insistência dos deputados da comissão nos vários esquemas de financiamento utilizados pelo BES, o gestor desabafou: “Continuo sem compreender porque existem offshores”.
A Eurofin, intermediário financeiro, não era alvo, até a uma determinada data, de qualquer suspeita, ou seja, não tinha sido questionada por ninguém. “Era um intermediário financeiro, pelo que não havia qualquer suspeita que a motivar uma decisão precipitada ou antecipada.”
Quando começaram a surgir suspeitas, “além da auditoria, decidiu-se suspender todas as ligações com a Eurofin”, explica o gestor.
“Não é verdade que as operações suspeitas tivessem continuado depois da nossa entrada no banco.” Naquela altura, Vítor Bento tinha de tomar uma decisão de gestão: ou recomprava as obrigações (tal como prometido pelo BES aos clientes) ou levantava suspeitas sobre a solvabilidade do banco ao recusar autorizar essas operações.
Fusão PT/Oi
A fusão PT e Oi foi um dos temas abordados na audição. “Era a menos pior de todas as alternativas.” Esta é a resposta do Vitor Bento ao aval dado à fusão da PT com a Oi, pedindo desculpa “pelo pontapé na gramática”. A decisão é também justificada com a missão de “maximizar o valor dos activos do banco” durante o seu mandato. O economista recorda ainda que a “decisão já tinha sido tomada”, sendo “praticamente irreversível”.
Ao longo da audição, o economista foi rejeitando manifestar a sua opinião, limitou-se aos factos que pautaram o seu mandato na gestão do BES e posteriormente no Novo Banco. “A minha opinião é inútil e inconsequente. Inútil porque não altera a realidade”, chegou a afirmar. “Não quero entrar em opiniões especulativas”, rejeitando-se a falar do passado da instituição.
Ainda a propósito do financiamento das empresas do grupo Espírito Santo e ao destino das mais-valias obtidas, Vítor Bento remete para o processo judicial em curso. “A mais-valia ainda está a ser investigada e motivou a investigação recente”, disse, referindo-se à mega-operação de buscas realizada na passada sexta-feira.
“Não é normal uma exposição desta natureza”, adianta sobre o crédito de 3,3 mil milhões de euros ao BES Angola. Vítor Bento chegou a pedir ao Banco Nacional de Angola uma garantia directa sobre este valor, que não chegou a concretizar-se porque foi entretanto adoptada a resolução do BES.
O provisionamento completo de Angola foi realizado pela entidade que aplicou a resolução. “Foram retirados do capital remanescente do BES, bad bank”, esclareceu Vítor Bento.
Vítor Bento afirmou hoje que foi “surpreendido” pela medida adoptada, a resolução do BES. “Estava numa reunião a tentar motivar os quadros, quando recebo um SMS com a informação da suspensão das acções [a 1 de Agosto]. Nem sequer me tinha apercebido da queda das acções.”
sandra.a.simoes@sol.pt