Combater o tabaco pode deixar crianças sem escola na China

Fumar mata. Mais do que uma mensagem para afastar as pessoas do consumo de cigarros, é uma evidência médica e científica. No entanto, combater o tabagismo na China – um dos flagelos do país – pode trazer problemas à educação de milhares de crianças. Muitas escolas chinesas foram construídas e são ainda patrocinadas pelas empresas…

Em 2008, um terramoto em Sichuan provocou a morte de cerca de 90 mil pessoas e deixou vários milhões sem casa. Quando chegou a altura de reerguer as cidades, as tabaqueiras foram das primeiras empresas a chegar-se à frente, pagando a construção de mais de uma centena de escolas, que passaram a receber o seu nome, slogan, ou ambos. Um exemplo famoso é a ‘Sichuan Tobacco Hope Elementary School’ (qualquer coisa como Escola Primária Tabaco de Sichuan), onde foi gravado na entrada o slogan ‘O talento vem do trabalho, o tabaco promove o talento’.

Está em marcha uma lei para reduzir drasticamente o consumo do tabaco na China, proibindo fumar cigarros em espaços públicos (com multas até 65 euros) e eliminando a publicidade e promoção às marcas de cigarros em qualquer lado, incluindo os patrocínios às tais escolas. É aí que reside o problema agora levantado.

Por outro lado, a própria indústria do tabaco chinesa – com receitas anuais de muitos milhares de milhões de euros e representando 7% das receitas de impostos do país, segundo a agência Bloomberg –, está preparada para combater a nova lei. Uma proposta paralela, que também está a ser desenhada, permitiria a manutenção dos patrocínios nas escolas. Só que, nesse caso, as crianças chinesas continuariam a ser ‘bombardeadas’ com imagens, slogans e marcas das tabaqueiras, podendo até as empresas agarrar o filão e patrocinar mais escolas.

Num país com mais de 1,35 mil milhões de habitantes, o problema do tabagismo toma proporções gigantescas. Mais de um milhão de pessoas morrem todos os anos na China devido ao fumo de cigarros, segundo a Organização Mundial de Saúde. O tabaco assume até um peso cultural no país, que é o maior produtor mundial. Um em cada três cigarros é fumado lá.

emanuel.costa@sol.pt