Sarkozy e Le Pen na casa de partida

Direita e extrema-direita francesa escolhem chefias, com as presidenciais na mira.

Uma corrida de obstáculos para um, uma marcha para outra. Nicolas Sarkozy e Marine Le Pen foram entronizados líderes dos respectivos partidos no domingo, mas os percursos de um e de outro até às eleições presidenciais de 2017 adivinham-se bem diversos.

A famosa travessia no deserto durou pouco para o ex-Presidente – será mais uma travessia de uma «caixa de areia», como diz o ex-director do Centro de investigação política da Sciences Po, Pascal Perrineau, ao New York Times. Derrotado em Maio de 2012, anunciou o abandono da vida política. Mas não resistiu ao apelo do poder ou, como alguns analistas crêem, a tentativa de regresso ao Eliseu será uma forma de se proteger dos inúmeros processos judiciais em que o seu nome está envolvido. Ainda na quarta-feira passou um cheque de mais de 360 mil euros à UMP (Sarkozy foi multado nesse valor por causa das contas da campanha eleitoral de 2012, mas foi o partido que pagou a penalização; por este motivo é alvo de investigação).

Para já, o regresso deu-se de forma serena (para os padrões de Sarkozy). Em entrevista ao Le Figaro, nas vésperas da eleição para a presidência da UMP – que venceu com 64,5% dos votos –, fez passar a mensagem de ser a única figura capaz de unir a direita e o centro. Mostrou-se interessado numa aliança com a UDI (bloco de pequenos partidos do centro-direita), receptivo a críticas de dentro do partido (mas ressaltando a ideia de assegurar aos franceses «a calma, determinação e coesão») e respondeu ao desafio de se apresentar em 2016 a umas eleições primárias de direita (nas quais deverá constar o maire de Bordéus, Alain Juppé, e, possivelmente, o seu ex-primeiro-ministro François Fillon).

Em relação ao programa político, elegeu como prioridades a redução da despesa pública (através da saída de funcionários públicos), a extinção do imposto sobre as grandes fortunas, a abolição da lei Taubira (sobre o casamento homossexual) e, claro, um tema que sempre lhe foi caro, mas que é uma bandeira da Frente Nacional, as políticas de imigração. Mas separa as águas quando lhe perguntam se Marine Le Pen chegará à segunda volta das presidenciais. «O risco existe. É por isso que defendo primárias que permitirão à direita e ao centro de se unirem em torno de um candidato desde a primeira volta».

Prova das diferenças entre a UMP e a FN, Marine Le Pen renovou a liderança com 100% dos votos. «A França sente falta de um verdadeiro chefe. Aqui estou eu perante os franceses», afirmou, triunfal. A seu favor joga o facto de não ter estado no poder. E nem as ligações ao regime de Putin (a FN tem um empréstimo de nove milhões de euros num banco com sede em Moscovo) deverão fazer mossa nesta altura.

cesar.avo@sol.pt