António Costa sabe que não conseguirá captar mais do que migalhas eleitorais à esquerda do PS, entre a base de apoio do PCP e o que resta do Bloco de Esquerda. Até porque, em 2011, o BE (ainda com os dissidentes do Livre e outros lá dentro) já ficou reduzido a 5,2% e o PCP a 7,9% (e dificilmente cairá abaixo dos 6%). Isto quer dizer que, ao radicalizar o discurso do PS para captar 4% ou 5% de votantes à esquerda, Costa está a afastar e a hipotecar o apoio potencial de 15% a 20% de votantes moderados que oscilam, conforme os ciclos políticos, entre o centro-direita e o centro-esquerda. E são estes eleitores que tradicionalmente definem se é o PSD ou o PS a vencer as eleições.
O novo líder socialista pode argumentar que chegou aos 50,9% em Lisboa com essa estratégia política, mas a votação das autárquicas de 2013 foi muito favorecida pela conjuntura e pelas circunstâncias. E acresce que também Sampaio ganhou Lisboa em 1989 e 1993, o que não impediu que ficasse a mais de 20 pontos de distância da maioria de Cavaco Silva nas legislativas de 1991.
Costa sabe, por outro lado, que se chegar ao Governo no final de 2015 não terá em S. Bento margem para fugir à disciplina orçamental a que o país está vinculado, nem para cumprir as promessas despesistas que vem fazendo, uma atrás de outra – da restituição dos cortes em salários e pensões à descida da carga fiscal ou às centenas de milhões a mais para a Educação ou a Saúde.
Tal como Hollande fez em França, no momento da verdade António Costa terá que meter a viola despesista no saco das ilusões eleitoralistas. É a vida, lá dizia Guterres.