2 – Contudo, no PSD, surgem sinais muito interessantes, que permitem traçar uma análise do que poderá vir a suceder no pós-Outubro do próximo ano. Neste momento, já não existe o chamado “tabu” Rui Rio: Rui Rio sabe muito bem o que quer e para onde vai. Rui Rio não quer ser Presidente da República ou eurodeputado: Rio quer ser o próximo Presidente do PSD, sucedendo a Pedro Passos Coelho. Ontem à noite deu mais um passo decisivo para a afirmação da sua estratégia: apresentou o seu livro em Lisboa, com o autor, Mário Jorge Carvalho, e Nuno Morais Sarmento.
3 – Quanto à sessão de apresentação, de facto, pareceu um balão de ensaio de uma iniciativa de lançamento de candidatura a um cargo político. Aparato, confusão quanto baste, atenção mediática com a presença de vários jornalistas (e até jornalistas que foram a título pessoal, não em trabalho) e com a presença de personalidades com peso na máquina do PSD. Referimo-nos, sobretudo, à ala barrosista: o barrosismo marcou presença em força no lançamento do livro de Rio no El Corte Inglés. José Luís Arnaut, Matos Correia, Paulo Mota Pinto e, claro, Morais Sarmento. Para além da presença muito notada de Paulo Rangel. O que mostra que Rangel já é uma carta fora do baralho para o “passismo” – e será que repetirá a experiência de 2001, sempre o ideólogo principal da estratégia de Rui Rio? Será seguramente Vice-Presidente do PSD, em caso de vitória de Rui Rio.
4 – Será inteligente este recurso ao barrosismo como bengala ou suporte de apoio no partido por parte de Rui Rio? Diremos que, prima facie, é uma jogada, a um tempo, sensata e com alguns riscos para Rio.
5 – É uma jogada sensata: o barrosismo conseguiu implementar-se com uma durabilidade e uma influência inusitadas na máquina do PSD, pelo que será fundamental para a montagem de uma estratégia vencedora internamente. Por outro lado, Nuno Morais Sarmento, com especial discrição e por entre silêncios e ausências aparentes, têm andado nos últimos anos a trabalhar a máquina para lançar um candidato alternativo a Passos Coelho. Nuno Morais Sarmento, porventura, será o homem que mais poder e influência terá na máquina do partido: Sarmento será, pois, decisivo para ditar o rumo dos sociais-democratas.
6 – Mas a colagem de Rui Rio ao barrosismo é também perigosa. Porquê? Fácil. O discurso de Rui Rio é recorrentemente contra o estado actual da política, dos políticos – e dos partidos políticos. Propõe, pois, uma ruptura, uma renovação profunda e drástica no funcionamento dos partidos políticos – e do regime. Mas, então, como se poderá mudar de paradigma, promover tal ruptura – se o núcleo duro dos seus apoiantes, se a ala que Rio escolheu, é a mesma que tem dominado o PSD há quase duas décadas?
7 – Impõe-se, pois, a Rui Rio que apresente um discurso novo – mas que tal discurso seja acompanhado de actos, acções e medidas concretas. E, já agora, de equipas que possam bater certo com a tal ruptura que propõe. Se não…
8 – Quanto ao livro, voltaremos à sua análise em breve.
P.S – Um militante do PSD, nosso conhecido, Agapito Ribeiro, dizia em conversa, que embora gostasse de Rio, o lançamento do livro parecia a festa de Natal do barrosismo. Não vamos tão longe…