Medo dos pais da democracia

“A situação na Grécia voltou para assombrar o euro”; “Nas próximas seis semanas a Grécia poderá vir a ser mais importante para os mercados globais do que a Ucrânia/Rússia em 2014”. Foi neste tom de quase pânico que os analistas financeiros olharam para a decisão do primeiro-ministro grego antecipar em dois meses as eleições presidenciais.

Medo dos pais da democracia

A possibilidade de o candidato da coligação falhar a eleição e obrigar a eleições antecipadas causou uma queda na Bolsa grega de 12,78%, a maior desde 1987, empurrou os restantes mercados para terrenos negativos e desvalorizou o euro.

O Presidente da República é sujeito a escrutínio no Parlamento até três rondas de votação. A primeira (marcada para a próxima quarta-feira) e a segunda (dia 23) exigem uma maioria de 200 deputados em 300. Na última ronda (agendada para dia 29) exige-se o apoio de 180 deputados. A coligação da Nova Democracia e do PASOK tem uma base de 155 parlamentares, pelo que para eleger o candidato Stavros Dimas terá de ser alargada a deputados independentes (quase todos abandonaram os partidos da coligação), à  Esquerda Democrática (também saiu da coligação) e ainda poderá ter de cortejar votos à extrema-direita. Caso a eleição falhe, haverá eleições legislativas antecipadas e o partido de extrema-esquerda Syriza está na frente das sondagens. Apesar de o seu líder, Alexis Tsipras, já ter moderado a linguagem – mas continua a defender a reestruturação da dívida – e de não conseguir formar Governo sem formar uma coligação, os investidores vêem o líder da oposição como a maior ameaça à zona euro.

A jogada arriscada de Samaras aconteceu numa altura em que a troika se negou a financiar a última fase do resgate caso o Governo não inclua cortes adicionais no Orçamento do Estado de 2015. Samaras perdeu a face perante os eleitores porque havia anunciado que a Grécia sairia do programa de assistência no fim do ano.

cesar.avo@sol.pt