No congresso do ZANU-PF – partido no poder – que terminou no dia 6, Robert Mugabe accionou a purga. A vice-presidente Joice Mujuru, histórica da luta pela libertação colonial nos anos 70, com o nome de guerra Derrama Sangue, desceu à categoria de “ladra” e “patife”. Ela e outros alegados conspiradores foram acusados por Mugabe de estarem “a planear a expulsão do Presidente do poder”.
A queda de uns levou à ascensão de outros. A primeira-dama Grace Mugabe, novata nas lides políticas e ponta-de-lança numa campanha anti-Mujuru, foi nomeada pelo marido líder da ala feminina do partido. Gucci Grace, como lhe chamam os detractores em alusão aos gostos dispendiosos, garantiu com a direcção da Liga das Mulheres um lugar no politburo e uma boa posição para suceder a Mugabe (e a juventude ajuda: Grace é 41 anos mais nova do que Mugabe).
Também o ministro da Justiça Emmerson Mnangagwa, alcunhado o Crocodilo, da linha dura do ZANU-PF, subiu a vice-presidente, tal como Phelekezela Mphoko, ex-embaixador na África do Sul. Os substitutos de Joice Mujuru foram escolhidos a dedo por Mugabe: anteriormente eram eleitos durante o congresso.
Além de Mujuru, sete ministros foram demitidos, incluindo aliados de longa data de Mugabe, que não parece interessado em poupar a velha guarda. O compagnon de route Rugare Gumbo, que foi o homem forte da informação e da propaganda, também se viu expulso do ZANU-PF há duas semanas. Agora, ao Guardian, diz-se “traído” e fala com novos dotes de clarividência, que lhe permitem destrinçar no comportamento de Mugabe “uma certa quantidade de ditadura, uma certa quantidade de tirania, uma certa quantidade de autoritarismo”.
Gumbo garante que o Presidente afastou todos os que se colocaram no caminho dos novos planos: tornar-se Presidente vitalício, ao estilo monárquico, e nomear Grace vice-PR.
Via Grace
Há pouco mais de três meses, quando a liderança à Liga das Mulheres do ZANU-PF ficou desimpedida com a desistência de outra candidata, Grace Mugabe começou a correr o país em comícios. E iniciou a cruzada contra Joice Mujuru, acusando-a de conspirar para matar Mugabe. Sem sentir necessidade de o provar, Grace chamou a então vice-PR de “corrupta, extorsionista, incompetente, bisbilhoteira, mentirosa e ingrata”.
Entre comícios e perante o sobrolho franzido dos opositores que a apelidam de DisGrace (DesGraça), a primeira-dama obteve o doutoramento em Sociologia em Setembro e não negou a ambição, noutro comício: “Dizem que quero ser Presidente. Porque não? Não sou zimbabueana?”
Mugabe prepara-lhe o terreno, baptizando um acesso ao congresso de Via Dr.ª Grace Mugabe, e desviando para um beco sem saída fiéis como Mujuru – que considerou as acusações de que foi alvo de “ridículas”, negou qualquer hipótese de traição e reafirmou a “inquestionável” lealdade a Mugabe.
A viúva do general Solomon Mujuru está, por enquanto, a fazer o mais difícil: ficar no Zimbabué. Deixar o país seria uma admissão de culpa – permanecer pode significar, no mínimo, a prisão.