Natal português ‘em risco’ na Venezuela

Os portugueses radicados na Venezuela vão passar um Natal atípico, com os preços altos e a escassez de produtos a afastar da ementa natalícia alimentos que até agora eram de presença obrigatória como o bacalhau, o azeite ou as castanhas.

"Este ano não se conseguiram as castanhas para o São Martinho e o azeite de oliva português desapareceu do mercado e o último preço era de 700 bolívares (89,60 euros à taxa oficial de 6,30 bolívares por cada dólar americano) a garrafinha de meio litro", disse à Agência Lusa o presidente da Câmara Venezuela Portuguesa de Comércio e Turismo.

José Luís Ferreira frisou ainda que "o preço do bacalhau oscila entre 800 e 1.000 bolívares o quilograma (entre 102,40 e 128 euros), mas nem por esse valor se consegue", mesmo sendo este um produto que nos últimos anos, no Natal era usado para "aportuguesar" alguns pratos natalícios venezuelanos como as "hayacas" e para substituir o fiambre fumado do pão de fiambre.

"Agora as pessoas o que procuram é o produto, nem olham para o preço, e a escassez é tão grande nestas coisas", disse, admitindo que os cidadãos que ganham o salário mínimo de 776 dólares (625 euros) têm dificuldades acrescidas para comprar estes e alguns outros produtos.

Por outro lado, a luso-descendente Matilde França explicou à Agência Lusa que a sua ementa de natal "vai ser mais modesta" pois terá que substituir o chouriço da sopa por outro de menor qualidade e reduzir a quantidade de guloseimas que levam leite em pó na sua preparação porque não conseguiu aquele produto em quantidade suficiente.

"Todos os anos, durante a quadra natalícia, preparamos um prato de bacalhau, mas este ano, devido aos altos preços e à escassez, vamos optar pelo tradicional pernil de porco assado à venezuelana. Dizem-me que nos mercados estatais está à venda pernil de Portugal e do Brasil, mas ainda não comprei porque é preciso tempo para fazer as longas filas", disse.

Na Venezuela são cada vez mais frequentes as queixas dos cidadãos sobre dificuldades para conseguir alguns produtos.

O sector empresarial acusa frequentemente o Governo venezuelanos de atrasos na autorização de compra de dólares para fazer as importações e que têm que acudir ao mercado paralelo para conseguir os dólares necessários.

Desde 2003 que vigora um sistema de controlo cambial, que impede a livre obtenção de moeda estrangeira no país. Actualmente existem três tipos de câmbio oficial na Venezuela, 6,30, 12 e 50 bolívares por cada dólar norte-americano, atribuídos a alimentos, medicamentos e importações prioritárias, turismo e outros, respectivamente.

Há ainda um mercado negro onde um dólar ronda os 180 bolívares, mas cujo valor é está proibido divulgar localmente.

Lusa/SOL