"Em relação às quantidades que recebi, penso que vai ultrapassar o que tivemos no ano passado, quando ultrapassámos mais de três mil quilos. Penso que este ano temos mais", disse à Lusa Abílio Lopes, Vice-Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Paris, durante a operação de triagem dos bens, no sábado.
Abílio Lopes disse que aqueles que recorrem ao apoio da instituição são tanto residentes de longa data a quem "a sorte não sorriu", como "pessoas que acabam de chegar a França".
"Neste últimos três anos, ou mais, tem havido um aumento de pedidos de pessoas que precisam [de ajuda]. A maior parte são portugueses que acabaram de chegar", acrescentou o responsável.
A mesma constatação é feita por José Afonso, presidente da Associação Franco-Portuguesa de Puteaux, nos arredores de Paris, onde foram armazenadas as caixas com os bens alimentares reunidos por mais de uma dezena de associações portuguesas.
"Encontramos muita gente que vem à procura de trabalho e alojamento. Temos ajudado muita gente, mas não conseguimos ajudá-los a todos. Por isso, a Santa Casa da Misericórdia está a fazer um grande trabalho e não podíamos deixar de colaborar com a Santa Casa que é o último refúgio que os portugueses têm agora aqui em França", declarou José Afonso.
A Associação Franco-Portuguesa de Puteaux nasceu há quase dez anos e tem acompanhado a chegada de uma nova vaga de emigrantes, havendo muitos que "precisam de ajuda mas não se mostram", acrescentou José Afonso, apelando a quem conhecer casos de portugueses em dificuldades para contactarem a Misericórdia de Paris.
O problema é que existe "uma pobreza envergonhada", continuou Abílio Lopes, explicando que "o português prefere viver no seu cantinho sem dar a conhecer as suas dificuldades do que se mostrar e dizer que realmente tem necessidade [de ajuda]".
França continua a ser um destino privilegiado para a emigração portuguesa, alimentada pelos relatos de casos de sucesso e por algum exibicionismo na hora de regressar a Portugal de férias, admitem alguns dos voluntários da Misericórdia de Paris que participaram na triagem dos produtos alimentares.
Por isso, o outro vice-provedor da Santa Casa, José Barros, alerta os portugueses que estejam a pensar emigrar para as dificuldades que vão encontrar.
"As dificuldades aqui são também muito grandes para encontrar trabalho, para encontrar casa. Se vierem sem um endereço de um familiar ou amigo que os possa acolher – pelo menos nos primeiros tempos – é um risco sair de uma situação de dificuldade para outra que vão encontrar também".
A Santa Casa da Misericórdia de Paris nasceu a 13 de junho de 1994 e tem atualmente mais de 300 voluntários, de acordo com José Barros, não tendo conseguido alcançar a meta dos mil associados – o objetivo anunciado no vigésimo aniversário da instituição.
Lusa / SOL