A principal causa imediata desta crise é a queda do preço do petróleo e do gás natural. As receitas fiscais do petróleo e do gás financiam cerca de metade do orçamento da Rússia. E dois terços das exportações russas são petróleo e gás.
A excessiva dependência da energia é um problema antigo da Rússia. O próprio Putin reconheceu que não se fizeram as reformas necessárias para diminuir essa dependência. E não se fizeram porque quem manda no país desde o colapso do comunismo não quis implantar uma economia de mercado. Com maior ou menor sucesso, essa mudança aconteceu nos países europeus que até há 25 anos eram satélites da União Soviética. Mas não aconteceu na Rússia, contra o que muita gente ocidental esperava, com alguma ingenuidade e sobretudo com muita ignorância sobre a sociedade e história da Rússia.
Esta crise não é meramente conjuntural. Tem raízes antigas. Uma delas é o facto de os russos quase nunca terem vivido numa economia de mercado e nunca num regime liberal. Só em 1861 foi abolida (legalmente, nem sempre na prática) a servidão de grande parte da população russa, quase toda rural. Desde então até ao início da I Guerra Mundial houve alguma industrialização na Rússia, mas limitada a zonas próximas de S. Petersburgo. A partir de 1917 veio o comunismo e a colectivização.
Caído o comunismo, na década de 90 esboçou-se um princípio de instauração de uma economia de mercado na Rússia. Mas os russos não entendiam a concorrência. Nessa altura, em entrevista a um jornalista ocidental, o chefe de uma gigantesca fábrica russa de veículos de transporte queixava-se, indignado, de se projectar outra fábrica concorrente algures na própria Rússia – que mal fiz eu para ter agora um inimigo, perguntava ele.
Diferente mentalidade têm os chineses, apesar de viverem há 65 anos sob uma ditadura dita comunista que lhes corta as liberdades políticas. Após a abertura económica lançada por Deng Xiao-ping nos anos 80, os chineses da China mostraram-se empreendedores activos, como já tinham antes mostrado milhões de chineses da diáspora, emigrados noutros países asiáticos.
Na Rússia, a tomada do poder por um grupo vindo do KGB, iniciada logo que o comunismo ruiu e tendo Putin como líder, disfarçou a realidade com pretensas reformas no sentido de uma economia de mercado (agora já nada disfarçam). Por isso os tribunais russos estão ao serviço do poder político, as leis de pouco valem, a comunicação social é altamente controlada, a corrupção é enorme e impune, e quem se opõe aos governantes arrisca-se a cadeia ou mesmo a ser assassinado – como inúmeros exemplos tragicamente documentam. Não há economia de mercado sem um Estado de Direito, ainda que imperfeito, que não existe na Rússia.