Na semana passada, a 23 e 24 de Dezembro, os funcionários dos entrepostos do Lidl na Marateca, Ribeirão e Torres Novas pararam 36 horas, depois de uma série de acções idênticas na Sonae, na Jerónimo Martins e no El Corte Inglés, em Novembro e Dezembro.
As reivindicações passam sobretudo por aumentos salariais, melhores condições de trabalho, menos precariedade nos vínculos laborais e renegociação do contrato colectivo de trabalho.
Segundo Manuel Guerreiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços de Portugal (CESP), desde 2011 que a associação que representa as empresas de distribuição (APED) não revê o contrato colectivo do sector. Além disso, os empregados queixam-se do menor rendimento devido aos cortes nas compensações por trabalho aos feriados e fins-de-semana.
Nos últimos anos, Sonae, Auchan, Lidl e Jerónimo Martins aceitaram compensar estas reduções e a subida de impostos com prémios ou até aumentos salariais. Mas em 2014 “esse esforço foi menor” e “as empresas procuraram não negociar nem subir ordenados”, critica o presidente do CESP, afecto à CGTP-IN.
Descontentamento alastra
O dirigente sindical justifica a forte contestação na logística – o coração das redes de abastecimento que, ao parar, põe em causa o funcionamento das grandes superfícies – por os trabalhadores terem piores salários e condições do que os que estão nas lojas.
“Há muito descontentamento. Há empresas que até vendem mais, mas estão na defensiva, a aproveitar para aumentar a produtividade e horários sem contrapartidas”, realça.
Fontes do sector ouvidas pelo SOL indicam que, face à aprovação em concertação social da subida do salário mínimo – que a CGTP não subscreveu – é natural que os sindicatos 'puxem' agora pelos outros vencimentos.
Mas a APED, que a 7 de Novembro reuniu com os sindicatos para renegociar o contrato colectivo do sector, nega que haja conflitualidade. A directora-geral, Ana Isabel Morais, explica que a suspensão das portarias de extensão dos contratos colectivos e as alterações da legislação laboral “tiveram influência no diálogo social” e não permitiram actualizações dos acordos colectivos.
Mas indica que as retalhistas estão a analisar o caderno reivindicativo entregue em Novembro e que as conversações retomarão “num futuro breve”.
Porém, alerta que as especificidades do sector, que em 2013 facturou 16 mil milhões e empregava 99 mil pessoas, “passam por uma crescente sazonalidade da prestação de trabalho e pela necessidade de flexibilização”.
E sublinha que face à “maior crise de consumo de que há memória e maior crise de rentabilidade no sector”, a tendência “não podia deixar de ser de contenção salarial”.
Estes argumentos são contestados pelos sindicatos. “Se as negociações não avançarem”, haverá mais protestos, avisa o presidente do CESP.
Contactados pelo SOL, Sonae e El Corte Inglés não responderam às questões sobre a conflitualidade das últimas semanas. O Lidl ressalva que em 2013 aumentou em 24% o subsídio de almoço, para 6,83 euros por dia. “E desde 1 de Março que os colaboradores com trabalho suplementar passaram a receber horas extra a 100%, apesar de o diploma não ter ainda sido promulgado”, diz fonte oficial.
Segundo o INE, nas grandes superfícies, a remuneração íliquida média ronda os 817 euros por mês.