Assim, pergunta o jornal The Guardian, “se quem está com uma depressão revela comportamentos de um doente e se as pessoas doentes se sentem muito como as pessoas com depressão será que existe alguma causa comum para as duas condições”?
Parece que a resposta é afirmativa e a inflamação – a resposta do organismo a uma agressão, que pode ser uma infecção, alergia ou lesão – surge como a melhor explicação para estes sintomas. Mais particularmente as citocinas, pequenas proteínas que desencadeiam a inflamação e mudam o corpo para o ‘modo doença’.
George Slavich, um psicólogo clínico da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, já nem se refere à depressão como uma “doença psiquiátrica”, já que ela “envolve psicologia, mas também partes iguais de biologia e de saúde física”.
Dois dos vários exemplos citados pelo jornal para sustentar esta tese são o aumento exponencial das citocinas e da inflamação durante episódios depressivos ou o facto de pessoas com doenças inflamatórias como a artrite reumatóide tenderem a sofrer, mais do que a média, de depressão.
O passo seguinte foi tentar perceber o que desencadeia esta inflamação. O jornal fala em dietas ricas em gorduras trans e açúcar, por exemplo, mas também da obesidade (na gordura armazenada na cintura encontram-se grandes quantidades de citocinas) ou o no stress, “particularmente aquele que se segue à rejeição social ou o causado pelo isolamento”.
Turhan Canli, um investigador da universidade nova-iorquina de Stony Brook, vai mais longe e aponta o dedo às infecções. O cientista referido pelo Guardian defende até que a depressão deveria passar a ser considerada uma doença infecciosa.
Segundo o jornal britânico, “a depressão começa a parecer uma alergia à vida dos tempos modernos” , o que pode explicar a sua ‘epidemia’ num mundo em que “cada vez mais comemos, preguiçamos e nos isolamos num estado de inflamação crónica”.
O que fazer? Slavich propõe que se baixem os níveis de “inflamação sistémica para valores razoáveis”. Não prejudica proceder a mudanças do estilo de vida e alguns – poucos – estudos clínicos aliaram, com sucesso, anti-inflamatórios a anti-depressivos. Por enquanto é cedo demais para certezas, a investigação está apenas numa fase inicial.
A notícia do The Guardian está disponível aqui.