Na Grã-Bretanha o partido nacionalista UKIP empurra o primeiro-ministro Cameron para posições cada vez mais hostis a Bruxelas. Aumentaram as probabilidades de a Grã-Bretanha vir a abandonar a UE, depois de um referendo em 2017.
Se a economia europeia estivesse pujante, o desencanto político com a UE seria compensado, pelo menos em parte, com a melhoria do bem-estar económico. Mas a Europa comunitária, e sobretudo a zona euro, é hoje a área de menor crescimento económico do mundo, com elevado desemprego. Em contraste com a recuperação económica em curso nos Estados Unidos (EUA).
O plano de Juncker para relançar a economia europeia não tem credibilidade, porque não tem dinheiro fresco. É uma operação para favorecer a imagem já um tanto desgastada do novo Presidente da Comissão Europeia. O plano visa multiplicar por 15 o pequeno capital de que dispõe a Comissão para dinamizar o investimento, multiplicação que faz lembrar a engenharia financeira que levou à crise global iniciada nos EUA em 2007. Consta que no Conselho Europeu de 18 de Dezembro Merkel levou a adiar para Janeiro a aprovação do regulamento do 'fundo Juncker'.
Entretanto, o objectivo de Berlim de alcançar um défice zero nas contas federais trava um maior investimento público na Alemanha, impedindo que este país se torne uma locomotiva a puxar pela estagnada economia dos seus parceiros europeus (a Itália está mesmo em recessão).
Tudo se agravou esta semana. Depois de perder um quarto do seu PIB em cinco anos e de finalmente esboçar alguma recuperação, a Grécia fez regressar à estaca zero a crise das dívidas soberanas, que ela própria iniciou há cinco anos.
A arquitectura do euro permaneceu intocada no essencial. Os balões de oxigénio lançados por Draghi para ganhar tempo não foram aproveitados pelos governos – e agora é duvidoso que ele consiga lançar mais balões.
De facto, cresce a oposição alemã (secundada por outros países) a uma intervenção do Banco Central Europeu (BCE) semelhante às realizadas pelos bancos centrais dos EUA, da Inglaterra e do Japão. Oposição que também alguns executivos de topo do BCE tornaram pública.
A ideia de o BCE 'imprimir dinheiro' para comprar dívida pública e privada (o chamado quantitative easing) de países da zona euro é anátema para a maioria dos alemães. E ainda não sabemos o que irá decidir o Tribunal Constitucional alemão quanto a certas iniciativas do BCE.
Os empréstimos baratos e de longo prazo que o BCE ofereceu aos bancos, para estes aplicarem o dinheiro em crédito a empresas e famílias, tiveram fraca procura nas rondas realizadas em Setembro e Dezembro de 2014. Algo mais eficaz é necessário. Mas as críticas, em particular do Bundesbank, à tal criação de dinheiro para compra de títulos fazem antever uma operação não convencional do BCE demasiado tímida para afastar a deflação (descida continuada dos preços) que ameaça a zona euro.
Ao longo deste ano a incerteza quanto ao futuro do euro e da própria UE sentir-se-á de forma mais aguda do que até aqui.