Fernando Negrão (PSD) justificou, em declarações aos jornalistas no final da audição, a sua posição com o facto de a "grande maioria das perguntas que envolviam 'holdings' e empresas ligadas ao GES" não terem sido respondidas, com o 'controller' financeiro [representante da função financeira] do GES, José Castella, a invocar "o segredo de justiça relativamente a inquéritos crime a decorrer no Luxemburgo".
"Verificámos, na parte final, que possivelmente [a audição] poderia ter sido realizada à porta aberta", admitiu Fernando Negrão, definindo contudo a presença do responsável do GES como "frutífera", embora "de uma forma incompleta".
A comissão de inquérito mantém o objectivo da "procura da verdade até às últimas consequências", e, nesse sentido, "esta audição ainda não terminou", frisou o presidente.
O "problema de duas jurisdições distintas, a nacional e do Luxemburgo", será agora enfrentado, nomeadamente com contactos a estabelecer com as autoridades luxemburguesas sobre uma eventual nova vinda ao parlamento de José Castella.
O 'controller' financeiro do GES José Castella, foi ouvido entre as 16:00 e as 20:30 na comissão de inquérito à gestão do GES e do BES, numa sessão que decorreu à porta fechada a pedido do responsável.
Na primeira das mais de 20 audições que decorreram sem a presença de jornalistas, Castella invocou o segredo de justiça para ser ouvido à porta fechada, sendo que requisitou também direito à reserva de imagem, não sendo possível fotografar nem filmar o 'controller' financeiro do GES.
Também na quinta-feira haverá uma audição a decorrer à porta fechada, sendo uma das mais esperadas: a de Francisco Machado da Cruz, contabilista e acusado pelo ex-presidente executivo do BES, Ricardo Salgado, de ter ocultado dívida da sociedade de topo do GES.
Fernando Negrão informou na terça-feira que Castella e Machado da Cruz entregaram dois requerimentos para serem ouvidos à porta fechada, apelos que foram aceites pelos deputados de todos os partidos.
"Invocaram o facto de terem tido contacto com mandados de busca em que se defina matéria de investigação criminal do Ministério Público, com implicações também com o segredo de justiça", disse o deputado social-democrata no final dos trabalhos de terça-feira.
Os deputados disseram preferir declarações, mesmo que à porta fechada, a não ouvirem os dois responsáveis do BES e do GES, reforçando contudo que este tipo de audições deve ser uma excepção só justificável numa situação como a referida por Castella e Machado da Cruz, a de segredo de justiça.
A comissão de inquérito arrancou a 17 de Novembro passado e tem um prazo total de 120 dias, que pode eventualmente ser alargado.
Lusa/SOL