2. O SOL, na edição de sexta-feira e no online ainda na quinta-feira, avançou que Guterres está fora da corrida a Belém. No dia seguinte, o EXPRESSO – para não ficar atrás do SOL e ser este jornal a comandar as operações no dossiê presidenciais – conseguiu contactar Guterres, tendo este dito que, afinal, embora prolongue o seu mandato na ONU, mantém a porta aberta a uma corrida presidencial. A sua decisão definitiva só será, pois, conhecida no final do ano. Este tabu de Guterres criado no Expresso de sábado é objectivamente muito favorável a António Costa (que mantém assim o partido sossegado, a não recear pelas presidenciais, à espera do Messias Guterres – focando todas as atenções nas legislativas, em que António Costa será candidato a Primeiro-Ministro) e ao próprio Guterres (fica a jogar em dois tabuleiros: ou Nova Iorque, na ONU; ou Belém, como Presidente da República Portuguesa). Mas sempre com um pé num cargo político qualquer, nacional ou internacional.
3. Assistimos, pois, no fim de semana a uma bipolarização quanto aos putativos candidatos presidenciais. Quem ficou de fora? Pois bem, o nosso querido amigo Pedro Santana Lopes. O qual não teve um fim de semana fácil – pelo contrário, teve um sábado e um domingo com algumas dores de cabeça, geradas pelo seu estado apreensivo. É que Santana Lopes viu nas presidenciais a sua oportunidade de ouro para concretizar a sua “operação fénix” – renascer politicamente das cinzas em que se transformou na sequência do seu descalabro governativo de 2004. Para tal, o nosso amigo Lopes tem de evitar a todo o custo a bipolarização excessiva entre Marcelo Rebelo de Sousa e Guterres. Ora, se Guterres falou no sábado, Marcelo Rebelo de Sousa é um nome sempre muito badalado no que às presidenciais diz respeito – então, Lopes tinha de falar logo no dia seguinte para picar o ponto. Dizer claramente que está vivo – e está presente.
4. Pois bem – assim se explica a entrevista publicada (coincidência das coincidências!) na segunda-feira. Uma entrevista que nós consideramos curiosa e até inteligente.
5. O que diz o nosso querido amigo Lopes? Primeira ideia forte: está disposto a disputar a eleição com Marcelo Rebelo de Sousa, dividindo o eleitorado de direita. Segunda ideia forte: Portugal não pode ficar de cócoras à espera de Guterres, o qual, ainda por cima, abandonou o país. E que mais? O resto da entrevista limitou-se a um chorrilho de banalidades, inconsequentes e pouquíssimo interessantes.
6. Do ponto de vista dos interesses próprios e exclusivos de Lopes, a entrevista é curiosa: permite recuperar-lhe uma importância relativa que há muito não tinha. De facto, Santana Lopes passou, depois de 2004, a ser uma figura política secundária (ou terciária?) ou acessória. Tem nas presidenciais o momento da sua vida: se Santana não alimentar a possibilidade da sua candidatura, poderá hipotecar , para todo o sempre, o seu regresso à primeira divisão da política portuguesa. Ele não precisa de se candidatar: apenas tem de manter viva a possibilidade da sua candidatura. No fundo, Santana quer ficar entalado entre Marcelo Rebelo de Sousa e Guterres. É a sua forma de fingir – e iludir outros – de que está ao mesmo nível.
7. Esta é a principal concussão que resulta da entrevista: Santana Lopes reforçou o estatuto de Marcelo Rebelo de Sousa como candidato natural do centro-direita – e iniciou a sua caminhada para o suceder daqui por cinco ou dez anos.
8. Está escrito nas estrelas, caro leitor, que Santana Lopes não será candidato presidencial em 2016, contra Marcelo Rebelo de Sousa.
9. Primeiro, porque acreditamos, apesar de tudo, que Lopes ainda mantém algum grau de coerência. Ora, Santana Lopes tem sido um dos mais cíticos daqueles que, sendo militantes do PSD, criticam eleitos pelo partido ou que concorram em listas adversárias ao PSD em qualquer acto eleitoral: defende a aplicação da sanção de expulsão para todos os militantes que ousem ir contra a decisão das estruturas do partido. Ora, seria no mínimo ridículo e suicida, que Santana Lopes viesse agora contradizer tudo aquilo que defendeu durante uma vida inteira. E seria naturalmente razão para a expulsão de Lopes do partido aplicando a tese…de Lopes!
10. Em segundo lugar, porque Santana Lopes já perdeu a sua aura de vencedor imbatível. De candidato que vence tudo e todos. Ainda nos lembramos que quando nos inscrevemos no partido, ainda jovem, os militantes contavam histórias do fantástico Pedro Santana Lopes – o qual tinha uma magia especial que cativava os eleitores. Que partia dos 10% , mas que acabava por arrematar a vitória por razões ainda por explicar! Era a magia de Lopes! Essa magia já acabou.
11. Santana Lopes hoje é o rosto da derrota: teve o pior resultado eleitoral da história do PSD em 2004; e em Lisboa, perdeu para António Costa.
12. Esta segunda derrota é particularmente sensível para Santana. Porquê? Por uma razão simples: é que Santana critica Marcelo por ter perdido as eleições para a Câmara de Lisboa em 89. Diz mesmo que Marcelo não sabe ganhar eleições.
13. Muito bem: pena é que Santana, então, está a admitir que não sabe ganhar eleições. É que, nas mesmas circunstâncias e com as mesmas (ou com menos: é que no ano de Santana, Sócrates era o Primeiro-Ministro) dificuldades de Marcelo – esquerda unida, um candidato socialista forte, acarinhado pela comunicação social – , Santana perdeu Lisboa!
14. Enfim, Santana é o que é: impulsivo, por vezes infantil, mas politicamente frenético. Basta recordar a história contada por Manuela Ferreira Leite: a primeira medida de Santana, em 2001, acabado de chegar à Câmara de Lisboa – foi criar um gabinete para preparar a sua candidatura Presidencial em 2006! Uma loucura! Mas representa o que é Santana Lopes: um apaixonado, não só pelo poder pelo poder, mas pela conquista do poder! Agora, Passos Coelho ofereceu-lhe a Santa Casa da Misericórdia para o calar durantes uns tempos – e Santana, apesar de alguns problemas (auditorias financeiras que detectaram vários problemas, conforme noticiou o “Público”, ou a contratação de um gabinete político de gente próxima de si, sobretudo da JSD, que se divirtem a escrever bem de Santana Lopes nas redes sociais e nos blogues – certamente por coincidência e convicção pessoal) tem feito um trabalho razoável.
15. No essencial, uma entrevista inteligente, e de sobrevivência, de Pedro Santana Lopes. Que, acima de tudo, é um artista da política.