A auditoria à decisão de fazer o investimento no Grupo Espírito Santo foi encomendada em Agosto pela PT, depois do colapso das holdings da família de Ricardo Salgado. A aplicação não chegou a ser reembolsada, tendo obrigado à revisão das condições da fusão entre a PT e a brasileira Oi.
Mas, quase cinco meses depois, os resultados teimavam em não sair. A Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM) tinha solicitado à PT SGPS que o relatório fosse entregue assim que estivesse concluído, mas a uma semana da assembleia-geral que vai ditar a venda ou não da dona do Meo à francesa Altice, agendada para 12 de Janeiro, o supervisor ainda não tinha recebido o documento final.
Entretanto, as queixas do regulador e também de accionistas chegaram ao Ministério Público. Foi aberto um inquérito com base em suspeitas de participação económica em negócio e burla qualificada, que culminaram nas buscas desta semana, acompanhadas pelo juiz Carlos Alexandre.
A acção resultou na apreensão de múltipla documentação e troca de correspondência entre os administradores da PT e do GES. A sede da PwC também contou com as visitas de inspectores da PJ durante a parte da manhã de terça-feira.
A peça-chave do conflito
O relatório da auditoria acabou por ser entregue pela PT SGPS à CMVM na terça-feira à noite, já depois das buscas. Era a data da conclusão final do documento, segundo o board da PT SGPS. Ao mercado, foi disponibilizado na quinta-feira à noite.
Mas o documento da PwC, que pode ser um elemento essencial para encontrar os responsáveis pelo investimento ruinoso, não contém toda a informação que o regulador quer. As buscas da PJ tinham como objectivo chegar à posse do documento final, mas também a todas as versões preliminares. Ao que o SOL apurou, desde que a consultora começou a realizar a auditoria entregou vários relatórios, que foram sofrendo alterações a pedido da PT SGPS. As primeiras versões incluíam acusações graves a actuais e antigos gestores da PT, incluindo Henrique Granadeiro e Zeinal Bava – que entretanto deixaram os cargos na PT e na Oi, respectivamente.
Segundo o Público, a versão final do relatório omite nomes de gestores. E alguns quadros e ex-quadros que foram ouvidos pela PwC quiseram alterar os primeiros depoimentos. Estes dados vão ao encontro de suspeitas de adulteração das conclusões da auditoria, que accionistas e CMVM transmitiram ao MP.
Para juntar as 'pontas soltas' que possam resultar do relatório final da PwC, a PJ procurou durante as buscas troca de comunicações entre gestores da PT e do GES, como e-mails, já que uma das dificuldades da PwC em apurar os responsáveis deveu-se, precisamente, ao facto de muitos contactos terem sido feitos forma informal.
Os nomes em cima da mesa
Apesar da dificuldade em obter provas materiais relativas à decisão do investimento na Rioforte, a auditoria contém relatos de reuniões para decidir a renovação da aplicação entre os administradores financeiros da PT e do BES, Luís Pacheco de Melo e Amílcar Morais Pires, bem como o director financeiro da PT, Carlos Cruz. E pelo menos um destes encontros foi a pedido de Henrique Granadeiro e Ricardo Salgado, cuja relação de amizade é conhecida. E segundo Morais Pires, Zeinal Bava terá chegado a acordo com os dois gestores antes dessas reuniões.
Zeinal Bava garantiu sempre que não sabia, já que o montante do investimento teria sido incluído nas aplicações de tesouraria globais.
"O Eng. Luís Pacheco de Melo refere que a reunião ocorreu a pedido do Dr. Henrique Granadeiro. O Dr. Amílcar Morais Pires refere que a reunião ocorreu a pedido do Dr. Ricardo Salgado e ainda que este teria afirmado que, no essencial, já estaria tudo acordado sobre o tema entre o Dr. Ricardo Salgado, o Dr. Henrique Granadeiro e o eng. Zeinal Bava", pode ler-se no documento da PwC.
Tudo indica assim que Salgado, Granadeiro, Bava, Pacheco de Melo e Morais Pires foram as peças que permitiram que o investimento se concretizasse, penalizando as contas da PT.
A auditoria revela ainda que a operadora se endividou para investir na empresa do GES e que emprestou dinheiro à Rioforte a taxas de juro inferiores aquelas que suportava no mercado para se financiar.
Para apurar as relações entre o BES e a PT que levaram ao buraco de 900 milhões, a PwC realizou várias entrevistas a quase todos os gestores. Zeinal Bava, Pacheco de Melo, Morais Pires e Granadeiro foram alguns dos gestores que colaboraram.
Mas, “apesar dos contactos estabelecidos”, a PwC não consegui entrevistar Ricardo Salgado.