Para além da imagem da muita parra e pouca uva, que parece despropositada e não se aplicar ao que está em causa, o facto é que a preocupação de Guterres em desfazer de imediato qualquer ideia de estar fora da corrida a Belém só veio comprovar, para lá de quaisquer tabus e indefinições, que o ex-líder do PS é mesmo candidato às presidenciais. Se não o fosse, deixaria correr a tinta e as especulações sem sentir necessidade de fazer tão afogueado desmentido. Como diz o fiel guterrista Augusto Santos Silva, “ainda é cedo para Guterres anunciar que será candidato, mas já é demasiado tarde para ele poder dizer que não será”. Ficou, pois, evidente que Guterres avançará para Belém. Pode o PS dormir descansado.
Ainda que o prolongamento do mandato no ACNUR seja bem mais do que uma 'simples questão técnica'. Guterres tem, pelo menos, que apresentar a sua candidatura em Outubro, já quase em cima das presidenciais. Vai suspender, nessa altura, funções no ACNUR? Então, prolongou-as para quê? E, eticamente, essa trapalhada de cargos é um bom cartão de visita para um candidato a Presidente?
Quem parecia estar já na calha para ocupar o vazio de uma eventual desistência de Guterres, era Sampaio da Nóvoa, que o próprio António Costa levou a debutar no Congresso do PS. Ora, o ex-reitor da Universidade de Lisboa veio agora confessar-nos que não conseguirá “viver mais neste país se me aparecer outro BES, outros gold ou outra situação como a de José Sócrates. Não consigo suportar”. Eis o que são boas credenciais para um aspirante a PR: às primeiras dificuldades de monta, não aguenta, colapsa pessoalmente. E deserta do país. Nem precisa do pântano para se ir embora.