“Quis tentar perceber essa sensação de terem sido estrangeiros lá e como agora são estrangeiros aqui. É tão bizarro que nem dá para pôr em palavras. Tiveram apenas um tempo intermédio em que quase pertenceram”, explica Dinarte Branco, o encenador, que começou a trabalhar neste espectáculo numas férias em São Miguel logo em Agosto de 2013.
O desafio foi feito pela presidente do Observatório dos Luso-Descendentes a Dinarte Branco e Nuno Costa Santos depois de terem apresentado outra peça de temática açoriana, Brel nos Açores. “Já tinha lido reportagens sobre esta questão dos luso-descendentes deportados e fiquei com vontade de fazer uma abordagem artística”.
Não há mais ficção em palco – apesar da presença de actores profissionais – porque os próprios deportados assumem as suas histórias e não decoram texto. “Percebi logo que tinham uma grande capacidade de contar, como se já estivesse tudo escrito. Nem sei se dizem só a verdade, não tenho essa inocência. Toda a gente se ficciona, a memória é isso mesmo”.
E se está neste momento a perguntar-se que crimes terão eles cometido, caiu na esparrela. Não é isso que importa. “O desafio é trabalhar com eles sem esse estigma. Eles já cumpriram a pena. Não pode continuar a existir esse paradigma de uma vez criminoso, sempre criminoso”.