Na impressora com os tachos

Num futuro muito próximo – ou melhor, num presente muito próximo – as receitas podem apresentar-se assim: ‘X gramas de polme; uma impressora. Modo de preparação: insira o polme no dispositivo próprio para o efeito; faça o download da forma pretendida; pressione o botão ‘print’ e aguarde’.

O resultado já pode ser um pequeno gelado ou uma barra de chocolate, ou ainda açúcar em pó com formas diversas. É só imprimir. Mas os chefs podem suspirar de alívio. Por enquanto, são eles que continuam a mandar na cozinha. 

As novas impressoras 3D, feitas à medida para caberem numa mesa pequena, podem ser um auxílio tecnológico a ter em conta na gastronomia. Até agora, estes dispositivos criavam formas ao sabor da criatividade de designers, gerando objectos para vários tipos de uso. 

Hoje, nem a comida lhes escapa. É consultar o menu: “Alguns chefs como Paco Morales [chef espanhol com currículo considerável, que fundou recentemente o restaurante Noor, em Córdova] ou Dave Arnold [fundador do Museu da Comida e da Bebida, o MOFAD, na sigla em inglês] já fizeram algumas experiências”, explica ao SOL, em conversa por email, Luis Rodriguez Alcalde, que fundou e dirige a 3Digital Cooks em Barcelona, há cerca de três anos. “Não sabemos se existe algum restaurante que inclua no seu menu de forma regular comida impressa em 3D”. Ainda assim, continua este chef digital espanhol de 31 anos, a impressora “tem-se usado de forma pontual em menus especiais, tanto nos EUA como na Holanda”.

Já existem, de facto, alguns exemplos. Os 3Digital Cooks experimentaram imprimir chocolate, bananas, iogurtes ou panquecas digitais. Neste último caso, o polme que sai da impressora deve assentar numa superfície quente, como se fosse parar à frigideira… O prato mais complicado foi sem dúvida o chocolate, explica Rodriguez, “pelas suas necessidades especiais e pela falta de uma equipa adequada”. É que os 3Digital Cooks formam uma laboratório experimental. “Não temos um restaurante, pelo menos, de momento”, refere o chef digital. O campeonato ainda está longe de chegar à disputa das estrelas Michelin. “Na 3D Digital Cooks dedicamo-nos a investigar e a divulgar novas formas de cozinha digital. Uma das mais importantes é a impressão 3D de alimentos. Temos feito demonstrações e apresentações”.

De resto, a formação de Rodriguez é tecnológica. O avental de cozinha é recente e espelha uma vontade de “aprender mais umas quantas coisas para poder ver as coisas com outros olhos”. Os cozinheiros digitais já formam uma rede considerável, na Europa (Holanda e Espanha estão representadas significativamente), no Japão, nos EUA e até na África do Sul (os laboratórios e as empresas podem ser conhecidos neste link).

Mais exemplos de guloseimas? No Japão, uma rede multinacional de cafés inventou uma maneira de atrair clientes no dia dos namorados. Após uma brevíssima sessão fotográfica, a imagem dos interessados era gravada num ficheiro informático que é, na verdade, o ingrediente principal para qualquer impressora deste tipo. Depois adicionava-se a matéria-prima, o polme de chocolate, ao compartimento da impressora responsável pela extrusão (processo através do qual se produzem componentes a partir de uma matriz; neste caso, a forma predeterminada no software do computador). E voilà: o resultado foram pequenos chocolates com a cara dos retratados, que os puderam oferecer aos seus ‘pombinhos’.

ricardo.nabais@sol.pt