Coube a José Alberto Carvalho fazer as honras da casa, nas despedidas da direcção de informação, dando a cara pela proeza, numa espécie de welcome drink ao seu sucessor no cargo, Sérgio Figueiredo, admirador assumido do ex-primeiro-ministro.
A passagem do testemunho não podia ter sido mais requintadamente simbólica. Talvez pelo ineditismo do modelo, o pivô acabou a pedir desculpa, perante a trapalhada da apresentação do exclusivo, sem sincronismo entre a voz off e a legendagem em carrocel, denunciando o improviso e a pressa na preparação do formato.
No estilo, a peça poderia ter passado na televisão pública venezuelana, de Chávez-Maduro, porventura com mais profissionalismo. Mas adiante, que este espaço não está vocacionado para a crítica televisiva…
O certo é que Sócrates falou, como tinha prometido, em “legítima defesa” – embora sem ter sido deduzida a acusação formal -, e por interpostos advogados, investidos no papel de ghost writers. Mas o discurso saiu coxo. A advocacia está longe de ser um bom campo de treino para vocações editoriais.
Valha-nos, ao menos, terem sido apenas seis perguntas. Pela extensão do depoimento, poderá concluir-se, facilmente, o que teria acontecido ao Expresso se a sua entrevista tivesse sido autorizada, com 81 perguntas!…
À cautela, um dos causídicos contratados por Sócrates veio já elucidar-nos – criativo e com toda a propriedade – que o trabalho da TVI “não foi uma entrevista. Foi o que foi: foram umas perguntas formuladas por escrito, respondidas por escrito”. E tem razão.
De facto, a entrevista é uma disciplina nobre do jornalismo, que não se compara nem se confunde com o exercício enfadonho exibido, sem contraditório, pela estação de Queluz, em flagrante violação de regras elementares no tratamento editorial de uma peça televisiva.
Mesmo assim, o exclusivo da TVI obteve o eco expectável e decerto desejado por quem teve a ideia. A concorrência audiovisual e a imprensa não se fizeram rogadas.
Talvez para não perturbar o exclusivo, já em adiantada fase de preparação, Mário Soares e António Costa abstiveram-se, em Évora, de declarações polémicas.
O novo líder do PS evitou comprometer-se (e ao partido), actuando na circunstância com a habilidade que deslumbra Marques Mendes.
E Soares, precavido, reservou-se para mais tarde, ao assinar mais um artigo hostil à Justiça – e a Cavaco Silva -, na linha da correspondência pungente trocada com Sócrates pelas festas .
Falta saber agora o que a TVI nos reservará para 2015 no território da informação.
Num assomo de modéstia, Figueiredo comunicou a uma revista da especialidade que “se não for muito incompetente” quererá trazer algo de positivo à estação de Queluz. Com Sócrates a iluminar-lhe a entrada, imprimiu já o cartão de visita.
O palco continua montado em Évora e os figurantes desfilam a preceito. A encenação tem falhas, mas os actores revezam-se com aprumo na marcação e as falas decoradas. Resta saber se o público acredita na narrativa…