"O que me inspirou para escrever este romance foi a história fascinante e a tradição contínua dos marranos. É uma história incrível", explicou Galambos à agência Lusa.
O norte-americano, de 60 anos, é judeu, descendente de sobreviventes do Holocausto, e não tem origens portuguesas.
Ganhou interesse pela história dos judeus que foram forçados a converter-se ao catolicismo, durante as inquisições portuguesa e espanhola, mantendo os seus costumes secretos, quando se apercebeu que muitas pessoas nos Estados Unidos e no Brasil estavam a descobrir a sua herança judia.
"É realmente inspiradora a luta de algumas pessoas para manterem algumas das suas tradições, passadas tantas gerações. A tentativa de manter algo do seu legado judeu é notável", diz.
Galambos vive no Massachusetts, uma zona com muitos portugueses de origem açoriana, e foi por isso que começou a imaginar a história de um jovem luso-americano.
Foi também na Nova Inglaterra, nas comunidades açorianas de Fall River e New Bedford, que encontrou inspiração para criar a cidade fictícia de Best Harbor, descrita à semelhança destas duas cidades.
Mesmo com este ponto de partida, o autor decidiu que precisava de mais informação e, há cinco anos, visitou os Açores para conhecer os costumes do arquipélago e encontrar-se com historiadores.
"Como fizeram noutros locais, descobri que, nos Açores, os marranos mantinham costumes de família tipicamente judeus, como acender velas à sexta-feira e cobrir espelhos nas casas quando alguém morre. E descobri algo que me convenceu ainda mais de que os marranos podiam não só sentir-se bem, como florescer, nos Açores: as festas do Espírito Santo", afirma o autor.
Galambos percebeu que os impérios do Espírito Santo, que são uma parte fundamental destas celebrações, não têm símbolos católicos.
Aos seus olhos, as coroas e ceptros dos impérios açorianos parecem as coroas e ponteiros Torah da tradição judaica, e o facto de os sete domingos das festas, que vão desde a Páscoa ao Pentecostes, coincidirem com as sete semanas que os judeus contam da Páscoa judaica até ao feriado Shavuot (o dia da entrega da Tora ao povo judeu), também estimulou a sua imaginação.
"Os marranos não criaram certamente as festas do Espírito Santo, mas tinham toda a motivação para as manterem", defende o norte-americano.
Com toda esta informação, Galambos escreveu uma história na primeira pessoa, sobre um jovem de 13 anos, chamado Michael Costa, que descobre que pertence a uma sociedade secreta de judeus marranos.
Para o escritor, a história destes judeus "é uma história de desafio, face à inquisição; uma história de subterfúgio, por praticarem a sua fé em privado; e uma história de fuga, porque decidem atravessar o oceano para fugir da inquisição que os persegue".
"Acima de tudo, é uma história de sobrevivência contra todas as probabilidades", defende Gabe Galambos.
Lusa/SOL