Gémeos sobre rodas

É justo dizer que a vida “corre sobre rodas” aos gémeos Oliveira, as novas esperanças do ciclismo nacional. No Campeonato do Mundo de Ciclismo em pista, na Coreia do Sul, em Agosto do ano passado, Rui Oliveira arrecadou a medalha de bronze, na modalidade ‘scratch’, e Ivo sagrou-se campeão do mundo na modalidade ‘perseguição’. E…

Gémeos sobre rodas

Troféus, medalhas e distinções são algo a que os gémeos Oliveira já habituaram a pequena localidade de Rechousa, em Canelas, Gaia, desde que se iniciaram na prática do ciclismo, “mais ou menos aos quatro anos de idade”, revelam em uníssono. Rui já foi vice-campeão europeu de pista, em 2013, Ivo foi terceiro no Mundial, no mesmo ano, na Escócia, e campeão europeu de 'perseguição' (prova disputada entre dois ciclistas que partem de posições opostas, o primeiro a ultrapassar o adversário vence). Ambos sonham um dia correr juntamente com o irmão mais velho, Hélder Oliveira, presença assídua na Volta a Portugal em Bicicleta, pela equipa do OFM/Quinta da Lixa.

“Começámos no ciclismo por causa do meu pai e do meu irmão mais velho, que já corriam em equipas profissionais e nós, por vê-los naquele mundo, também começámos a gostar de estar integrados nesse meio”, conta Rui Oliveira. Uma família de ciclistas, que inclui ainda o tio paterno – Germano Oliveira – e o primo – Tiago Lima. Com 18 anos feitos “de fresco”, Rui e Ivo Oliveira ainda não competem a nível profissional, embora já tenham feito uma primeira experiência junto “dos mais crescidos”, em Outubro, na Suíça, durante a corrida dos 3 Dias de Aigle. Os resultados não podiam ter sido mais auspiciosos: um 2.º e um 5.º lugar.

Promessas do desporto nacional

Uma estreia que está a criar grandes expectativas no mundo do desporto, agora que os gémeos Oliveira passam a competir no escalão de sub-23, uma antecâmara do ciclismo profissional. Ivo Oliveira foi mesmo vencedor do prémio Jovem Promessa 2014, galardão atribuído pela Confederação do Desporto de Portugal e para o qual muito contribuíram os títulos europeu e mundial de juniores de perseguição individual. Um prémio que celebrou com o ídolo de sempre, o melhor ciclista português da actualidade, Rui Costa, a quem pretende seguir as pedaladas. “Rui Costa é o nosso ídolo no ciclismo, é um ciclista muito inteligente e trabalhador e que reflecte isso nas provas”, defende Rui Oliveira. O outro atleta a seguir é o irmão mais velho, Hélder, de quem sonham ser colegas de equipa um dia. Um sonho que até pode realizar-se já em 2015, quando ambos subirem de categoria.

O sucesso no desporto não faz, contudo, com que Ivo e Rui sejam dois rapazes de 18 anos diferentes da maioria, muito pelo contrário. “As pessoas que estão mais por dentro do desporto, no geral, e do ciclismo, em particular, por vezes abordam-nos na rua, mas não é nada com que não consigamos lidar”, confessa Rui Oliveira, o mais extrovertido dos dois prodígios do ciclismo nacional. Quanto a namoradas, a resposta é mais prudente: “Se tivermos de ter namoradas, temos, não é o ciclismo que o vai impedir, mas há que saber gerir bem as coisas e o tempo”, revela Ivo. Uma gestão que nem sempre é fácil, dado o tempo que o desporto e a escola tomam na vida dos dois irmãos. “Por vezes, é complicado conjugar a escola com o ciclismo. Não sobra tempo para muita coisa, por isso é necessário sabermos fazer uma boa gestão do dia-a-dia”, explica Rui. “O nosso horário difere de dia para dia e temos de adaptar os treinos ao horário da escola, o que normalmente conseguimos, com algum esforço e sacrifício”. Sacrifício que implica deixar algumas aventuras para mais tarde, como conta Ivo: “Não fazemos tantas coisas como outros jovens da nossa idade, mas os nossos resultados reflectem-se no que mais queremos, que é crescer no ciclismo. Se for preciso abdicar de algumas coisas, abdicamos, no entanto, tentamos aproveitar todos os bocadinhos”.

Um futuro cheio de objectivos

Concluído o 12.º ano na Escola Secundária António Sérgio, em Gaia, os irmãos Oliveira querem seguir os estudos e ir para a faculdade estudar Desporto ou Educação Física, mas ainda não foi em 2014 que cumpriram esse objectivo. “Gostaríamos muito de ir para a faculdade e seguir o curso de Desporto. Talvez  consigamos para próximo ano lectivo”, conta Rui Oliveira. Uma opção a conciliar com a prática do ciclismo, “de estrada e de pista”, já que os manos Oliveira já não conseguem “praticar uma modalidade sem a outra”. As duas opções, que vão alternando ano a ano, podem fazer sonhar os adeptos do desporto de duas rodas em Portugal. No entanto, os manos Oliveira são cautelosos, quando confrontados com objectivos como os Jogos Olímpicos ou a Volta a Portugal em Bicicleta. “Estamos sobretudo focados em crescer e aprender, tanto em estrada, como em pista”, afirma, de forma politicamente correcta, Ivo Oliveira. Rui é um pouco mais atrevido: “Todos temos sonhos e representar Portugal nos Jogos Olímpicos é um deles, tal como correr a Volta a Portugal em bicicleta”.

O talento dos gémeos Oliveira não passou despercebido à Federação Portuguesa de Ciclismo, que há muito os apoia nas deslocações a corridas no estrangeiro. Nem às várias equipas pelas quais os os jovens irmãos têm passado: Leões Cabanenses (2005-2006), Escola Fernando Carvalho (2007-2010), Arca de Noé (2011), Escola de Ciclismo Venceslau Fernandes (2012-2013) e Clube de Ciclismo da Bairrada.

“Temos tido muito apoio do seleccionador Gabriel Mendes e do treinador Henrique Queirós, as duas pessoas que mais nos têm ajudado”, conta Rui Oliveira. “Os nossos pais também nos apoiam muito e têm um grande orgulho nos filhos – principalmente o nosso pai, que é quem costuma acompanhar mais as corridas”. E quando o pai não está, apoiam-se um ao outro: “Por vezes, um corre uma corrida e o outro fica a ver e a sofrer por fora”, revela Ivo.