Troféus, medalhas e distinções são algo a que os gémeos Oliveira já habituaram a pequena localidade de Rechousa, em Canelas, Gaia, desde que se iniciaram na prática do ciclismo, “mais ou menos aos quatro anos de idade”, revelam em uníssono. Rui já foi vice-campeão europeu de pista, em 2013, Ivo foi terceiro no Mundial, no mesmo ano, na Escócia, e campeão europeu de 'perseguição' (prova disputada entre dois ciclistas que partem de posições opostas, o primeiro a ultrapassar o adversário vence). Ambos sonham um dia correr juntamente com o irmão mais velho, Hélder Oliveira, presença assídua na Volta a Portugal em Bicicleta, pela equipa do OFM/Quinta da Lixa.
“Começámos no ciclismo por causa do meu pai e do meu irmão mais velho, que já corriam em equipas profissionais e nós, por vê-los naquele mundo, também começámos a gostar de estar integrados nesse meio”, conta Rui Oliveira. Uma família de ciclistas, que inclui ainda o tio paterno – Germano Oliveira – e o primo – Tiago Lima. Com 18 anos feitos “de fresco”, Rui e Ivo Oliveira ainda não competem a nível profissional, embora já tenham feito uma primeira experiência junto “dos mais crescidos”, em Outubro, na Suíça, durante a corrida dos 3 Dias de Aigle. Os resultados não podiam ter sido mais auspiciosos: um 2.º e um 5.º lugar.
Promessas do desporto nacional
Uma estreia que está a criar grandes expectativas no mundo do desporto, agora que os gémeos Oliveira passam a competir no escalão de sub-23, uma antecâmara do ciclismo profissional. Ivo Oliveira foi mesmo vencedor do prémio Jovem Promessa 2014, galardão atribuído pela Confederação do Desporto de Portugal e para o qual muito contribuíram os títulos europeu e mundial de juniores de perseguição individual. Um prémio que celebrou com o ídolo de sempre, o melhor ciclista português da actualidade, Rui Costa, a quem pretende seguir as pedaladas. “Rui Costa é o nosso ídolo no ciclismo, é um ciclista muito inteligente e trabalhador e que reflecte isso nas provas”, defende Rui Oliveira. O outro atleta a seguir é o irmão mais velho, Hélder, de quem sonham ser colegas de equipa um dia. Um sonho que até pode realizar-se já em 2015, quando ambos subirem de categoria.
O sucesso no desporto não faz, contudo, com que Ivo e Rui sejam dois rapazes de 18 anos diferentes da maioria, muito pelo contrário. “As pessoas que estão mais por dentro do desporto, no geral, e do ciclismo, em particular, por vezes abordam-nos na rua, mas não é nada com que não consigamos lidar”, confessa Rui Oliveira, o mais extrovertido dos dois prodígios do ciclismo nacional. Quanto a namoradas, a resposta é mais prudente: “Se tivermos de ter namoradas, temos, não é o ciclismo que o vai impedir, mas há que saber gerir bem as coisas e o tempo”, revela Ivo. Uma gestão que nem sempre é fácil, dado o tempo que o desporto e a escola tomam na vida dos dois irmãos. “Por vezes, é complicado conjugar a escola com o ciclismo. Não sobra tempo para muita coisa, por isso é necessário sabermos fazer uma boa gestão do dia-a-dia”, explica Rui. “O nosso horário difere de dia para dia e temos de adaptar os treinos ao horário da escola, o que normalmente conseguimos, com algum esforço e sacrifício”. Sacrifício que implica deixar algumas aventuras para mais tarde, como conta Ivo: “Não fazemos tantas coisas como outros jovens da nossa idade, mas os nossos resultados reflectem-se no que mais queremos, que é crescer no ciclismo. Se for preciso abdicar de algumas coisas, abdicamos, no entanto, tentamos aproveitar todos os bocadinhos”.
Um futuro cheio de objectivos
Concluído o 12.º ano na Escola Secundária António Sérgio, em Gaia, os irmãos Oliveira querem seguir os estudos e ir para a faculdade estudar Desporto ou Educação Física, mas ainda não foi em 2014 que cumpriram esse objectivo. “Gostaríamos muito de ir para a faculdade e seguir o curso de Desporto. Talvez consigamos para próximo ano lectivo”, conta Rui Oliveira. Uma opção a conciliar com a prática do ciclismo, “de estrada e de pista”, já que os manos Oliveira já não conseguem “praticar uma modalidade sem a outra”. As duas opções, que vão alternando ano a ano, podem fazer sonhar os adeptos do desporto de duas rodas em Portugal. No entanto, os manos Oliveira são cautelosos, quando confrontados com objectivos como os Jogos Olímpicos ou a Volta a Portugal em Bicicleta. “Estamos sobretudo focados em crescer e aprender, tanto em estrada, como em pista”, afirma, de forma politicamente correcta, Ivo Oliveira. Rui é um pouco mais atrevido: “Todos temos sonhos e representar Portugal nos Jogos Olímpicos é um deles, tal como correr a Volta a Portugal em bicicleta”.
O talento dos gémeos Oliveira não passou despercebido à Federação Portuguesa de Ciclismo, que há muito os apoia nas deslocações a corridas no estrangeiro. Nem às várias equipas pelas quais os os jovens irmãos têm passado: Leões Cabanenses (2005-2006), Escola Fernando Carvalho (2007-2010), Arca de Noé (2011), Escola de Ciclismo Venceslau Fernandes (2012-2013) e Clube de Ciclismo da Bairrada.
“Temos tido muito apoio do seleccionador Gabriel Mendes e do treinador Henrique Queirós, as duas pessoas que mais nos têm ajudado”, conta Rui Oliveira. “Os nossos pais também nos apoiam muito e têm um grande orgulho nos filhos – principalmente o nosso pai, que é quem costuma acompanhar mais as corridas”. E quando o pai não está, apoiam-se um ao outro: “Por vezes, um corre uma corrida e o outro fica a ver e a sofrer por fora”, revela Ivo.