Óscares 2015. Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

Com filmes como “Amor Cão” (2000), “Babel” (2006) ou “Biutiful” (2010), o mexicano Alejandro González Iñárritu habituou-nos a filmes em que a forma conceptual tem tanto, ou mais, impacto que o conteúdo. 

Em “Birdman” essa aposta estética continua, com o realizador a apresentar o filme todo em plano-sequência, que é como quem diz uma narrativa linear, sem cortes do princípio ao fim.

Sabemos que esta opção não se cumpriu à risca – uma vez que Iñárritu não filmou as cenas todas de seguida e a história prolonga-se para lá dos seus 119 minutos de exibição -, mas é ela que justifica a câmara sempre em movimento, percorrendo os corredores de um teatro da Broadway, em Nova Iorque, enquanto se conta a história de um actor envelhecido, que quer provar ao mundo ser capaz de representar, depois de se ter tornado conhecido ao dar vida ao super-herói Birdman.

Depois de três filmes, Riggan Thomson (Michael Keaton, nomeado para o Oscar de Melhor Actor) rejeitou fazer uma quarta longa-metragem na pele de Birdman e a sua carreira nunca mais teve o mesmo fôlego. À semelhança, de resto, do próprio Keaton, que depois de dois “Batman”, sob a direcção de Tim Burton, decidiu não regressar para o terceiro capítulo.

Essa relação entre a vida real e a representação é usada em proveito do filme, mas não é Keaton que convence em “Birdman”. São os actores secundários, como os excelentes Edward Norton e Emma Stone, que dão vitalidade ao projecto, num filme algo disparatado onde, lá está, a forma disfarça o podre conteúdo.

alexandra.ho@sol.pt