Óscares 2015. O Jogo da Imitação

Alan Turing era obcecado por puzzles e palavras cruzadas. Essa ideia romantizada de que um jogo pode resolver qualquer problema, até uma guerra mundial, percorre O Jogo da Imitação, filme sobre o brilhante matemático britânico que decifrou o código Enigma, usado pelos nazis para atacar os Aliados, ao criar uma complexa máquina de criptografia que,…

Inspirado pela obsessão por jogos do génio inglês, o realizador Morten Tyldum estruturou o filme em três partes, criando um mosaico com muitos flashbacks aos tempos da adolescência de Turing (onde se sugere um ligeiro autismo) e ao período de actividade de Bletchley Park, o complexo onde os britânicos tentavam resolver a Segunda Guerra. Assim, a ascensão de Turing a brilhante criptógrafo e a colaborador dos serviços secretos britânicos é retratada, bem como o seu declínio ao assumir uma relação com um homem, na década de 1950.

Como a homossexualidade era proibida, Turing evitou a prisão submetendo-se a uma castração química, mas o tratamento foi tão violento que acabou por empurrar o matemático ao suicídio, em 1954, ao morder uma maçã envenenada com cianeto. Há quem diga, por isso, que a maçã do logotipo da Apple é uma homenagem a Turing, considerado o percursor dos computadores.

Apresentado como um homem inseguro, mas igualmente arrogante e distante, sem qualquer interesse pela opinião de terceiros, era também bastante determinado no que dizia respeito ao seu trabalho e a interpretação soberba de Benedict Cumberbatch consegue transmitir essas nuances todas. Ao contrário de Eddie Redmayne com Stephen Hawking (em A Teoria de Tudo), Cumberbatch não tinha muito material para se apoiar na construção de Alan Turing, uma vez que o seu papel enquanto herói de Guerra foi mantido em segredo até aos anos 80.

O actor inspirou-se, então, no livro Alan Turing: The Enigma, de Andrew Hodges, e nos ensaios e anotações que o matemático escreveu para a Universidade de Cambridge para construir a personagem. É, por isso, um retrato cheio de suposições, mas que para a maioria dos historiadores britânicos é bastante credível. A notável interpretação de Cumberbatch, e os momentos inspirados ao lado da igualmente competente Keira Knightley, não chega, porém, para salvar o filme, cheio de clichés. O mais gritante são as personagens bastante estereotipadas como o militar céptico que só dificulta a vida a Turing, o cientista bonitão que, ao contrário do matemático, é perito em relações sociais, o espião simpático de quem ninguém desconfia excepto o génio da criptografia ou o idealista que enfrenta o dilema de só conseguir poupar a vida do irmão se comprometer a missão secreta de que faz parte.

alexandra.ho@sol.pt