Na Madeira, chama-se ‘gata’ por o tubarão que lhe dá origem ter uns ‘bigodes’ semelhantes ao dos gatos. Em Portugal Continental, chama-se ‘lixa’ por derivação do nome científico (Dalatias licha) e por a sua pele ser tão áspera que, uma vez seca, é usada por carpinteiros e sapateiros.
Típica daquela baía, os pescadores de Câmara de Lobos ainda hoje continuam a secar a ‘gata’ ao ar livre, para depois a venderem para petisco. É servida frita ou de escabeche.
A União Europeia (UE), baseando-se em pareceres científicos sobre a ameaça à espécie, proibiu a captura desta espécie de tubarão de profundidade. Até à entrada em vigor da proibição, a 1 de Janeiro, a região beneficiou de um regime de excepção: a UE aceitava o facto de ser artesanal, acessória e tradicional, pelo que a frota pesqueira de Câmara de Lobos, com 22 barcos, estava autorizada a descarregar 5% de tubarão de profundidade. Mas agora a posição mudou e a captura é proibida.
A decisão de Bruxelas é contestada em Câmara de Lobos, até porque, a captura da ‘gata’ é acidental e não propositada. É que o dito tubarão partilha o mesmo habitat de águas profundas do peixe-espada-preto pelo que, acidentalmente, pica os anzóis do peixe-espada. Quando a espécie chega à superfície já não tem vida, pelo que devolvê-la ao mar não protege a espécie e é atirar borda fora um recurso económico adicional em terra. O preço da ‘gata’ corre na lota a 1,5 euros ao quilo e o óleo é vendido a 600 euros cada bidão.
A direcção de pescas da Madeira está a estudar mecanismos e técnicas para afastar os tubarões de profundidade, mas o dano colateral é inevitável. O presidente da Câmara, Pedro Coelho (PSD), está do lado dos pescadores e comerciantes na defesa da ‘gata’. “A gata é uma referência gastronómica do povo de Câmara de Lobos e da Madeira e que deve ser defendida em Bruxelas pelo município de Câmara de Lobos e pelo Governo Regional”, revelou em comunicado.
O CDS também já avançou com um projecto de resolução no parlamento madeirense com uma “recomendação ao Governo Regional para que reúna os estudos necessários que permitam solicitar à UE a certificação das artes de pesca tradicionais da Madeira”. A Academia Madeirense das Carnes/Confraria Gastronómica da Madeira está disponível para organizar uma manifestação em Bruxelas.