Para Zsolt Darvas, economista do 'think tank' Bruegel, o mais provável é que o novo Governo grego "consiga chegar a um novo acordo com a 'troika'", envolvendo questões de política orçamental, reformas estruturas e dívida, até porque – lembrou – recentemente o partido de esquerda Syriza "tem-se movido para uma posição mais moderada".
Também Janis Emmanouilidis, diretor de outro 'think tank' (grupo de reflexão) baseado em Bruxelas, o European Policy Center, refere que "qualquer que seja o resultado, [o Syriza] terá de arranjar maneira de negociar". No entanto, diz, até lá o partido terá de alterar muitas das posições iniciais, mais radicais.
O líder do Syriza, Alexis Tsipras, tem repetido que, em caso de vitória do seu partido, o país continuará no euro, mas pretende renegociar os acordos de assistência financeira ao país, com uma redução da dívida e sem mais medidas de austeridade.
A Grécia está sob assistência financeira internacional da 'troika' (Comissão Europeia, BCE e FMI) desde 2010, com dois empréstimos concedidos (que ascendem a 240 mil milhões de euros) em troca de duras medidas de austeridade e a um amplo plano de privatizações.
Jiannis Emmanouilidis lembra que, antes mesmo de se falar no que vai acontecer nas negociações com os credores, o Syriza ainda tem de ganhar as eleições, provavelmente terá de arranjar um parceiro de coligação para conseguir formar Governo, tem de se entender com esse parceiro e só depois arrancam as negociações com a 'troika', num processo que adivinha "muito complicado e longo".
Até lá a "incerteza prevalecerá", afirmou. Ainda assim, assumindo que o Syriza vai ao poder e que negoceia com a 'troika', o especialista acredita que a "possibilidade de se chegar a um acordo é alta", com cedências de ambas as partes, enquanto as hipóteses de sair da zona euro "são baixas".
Para ambos os especialistas, na questão da dívida – um dos 'cavalos de batalha' do Syriza – o que pode acontecer são sobretudo medidas como extensão das maturidades e diminuição de juros.
Para Zdor Darvas, o problema será grave se as negociações se arrastarem sem sucesso e a Grécia não tiver acesso a financiamento externo. Aí "teremos de estar preparados para o pior", alertou.
Se a Grécia for à "falência" e os bancos não tiverem acesso às operações do BCE, a solução seria voltar "a ter moeda própria", afirmou.
Quanto a implicações da situação da Grécia em Portugal, tanto Darvas como Emmanoulidis são unânimes em dizer que não deverá haver qualquer impacto, uma vez que "Portugal é muito diferente da Grécia, e os mercados compreendem isso".
O partido de esquerda Syriza é o favorito para ganhar as eleições legislativas na Grécia, a 25 de Janeiro, com as sondagens a darem-lhe a vitória face aos conservadores da Nova Democracia, actualmente no poder, mas com uma diferença curta, oscilando entre os 2% e os 4%.
Mergulhada na recessão desde 2008, a Grécia assistiu à explosão do desemprego (que ainda ultrapassa os 25%), a reduções salariais entre os 30% e os 40%, ao envio de 20% da população para o limiar da pobreza. Em 2014, indicam as estatísticas, conheceu por fim dois trimestres consecutivos de PIB positivo e que serviram de argumento ao Governo para anunciar o "princípio do fim" dos sacrifícios.
Lusa/SOL