No despacho da matéria provada em julgamento, a que a agência Lusa teve acesso, a juíza referiu que o estado emocional de Kate e Gerry McCann "é pré-existente ao livro, ao documentário e à entrevista" do ex-inspector da Polícia Judiciária e "não deve confundir-se com as consequências psicológicas específicas desses concretos eventos".
Todavia, Emília Melo e Castro considerou também que, "não pode também, à luz de uma leitura razoável dos depoimentos prestados e das regras de experiência da vida, dar esses eventos como absolutamente neutros ou inócuos".
"Julga-se seguro afirmar que os autores sentiram, em consequência daqueles eventos, raiva, desespero e angústia. É ainda suportado pela prova que os mesmos vivenciaram preocupação (por temerem, segundo relatado por várias testemunhas, que a tese do livro pusesse em causa os esforços para encontrar a filha) e que sofreram insónias e falta de apetite", refere o despacho judicial.
Embora reforçando que não foi feita prova que "qualquer estado de destruição (emocional) do casal tenha sido causado pelo livro, pelo documentário ou pela entrevista", a magistrada assinalou que "os mesmos autores sentem mal-estar por serem considerados, pelas pessoas que acreditam na tese do réu Gonçalo Amaral sobre o desaparecimento de Madeleine McCann, como responsáveis pela ocultação do cadáver desta e como autores da simulação do seu rapto".
Na opinião da advogada dos McCann, Isabel Duarte, "foram provados danos directamente originados pelo livro e foi provado que o livro contém informações provenientes da investigação levada a cabo no processo-crime, mas algumas truncadas, incompletas".
A agência Lusa tentou o contacto telefónico com Gonçalo Amaral e com o seu advogado, Miguel Cruz Rodrigues, mas não obteve resposta até ao momento.
A sentença deste processo, em que a família McCann acusa o ex-coordenador do Departamento de Investigação Criminal de Portimão de difamação e pede 1,2 milhões de euros de indemnização, será comunicada às partes.
Madeleine McCann desapareceu quando tinha quatro anos, no aldeamento turístico da Aldeia da Luz, perto de Portimão, onde a família se encontrava em férias.
Kate e Gerry McCann sempre mantiveram a posição de que Maddie foi raptada. O caso foi reaberto recentemente pelo Ministério Público.
Lusa/SOL