Auschwitz é símbolo do regime nazi

A investigadora Esther Mucznik, defende que o complexo de extermínio nazi instalado na Polónia durante a II Guerra Mundial é “simbólico” do regime de Adolf Hitler. 

"Auschwitz revela, quando se penetra naquele universo, coisas hediondas sobre o sistema nazi. É o espelho mais fiel do extermínio e contém em si todos os tipos de campos do universo concentracionário. É a concentração de facto da política nazi", disse à Lusa a investigadora, autora do livro "Auschwitz, um dia de cada vez" sobre o complexo de extermínio, tomado pelas tropas soviéticas no dia 27 de Janeiro de 1945. 

"Fui várias vezes a Auschwitz e tinha uma visão geral mas Auschwitz não foi apenas o grande centro de extermínio. Não foi só isso. Começou por ser um campo de concentração – mantido até ao fim – mas a dimensão da extorsão, da corrupção, da dimensão do trabalho com as indústrias mais importantes da Alemanha, onde existiu a perversão de um sistema que utilizava as vítimas como carrascos, porque os prisioneiros eram obrigados a fazerem as mais sujas tarefas", disse ainda Esther Mucznik, vice-presidente da Comunidade Israelita de Lisboa.

O livro da investigadora, que foi lançado esta semana, relata toda a política do regime nacional-socialista alemão: o processo dos campos de concentração como meio de repressão política entre 1933 e 1936 seguindo-se depois a "Solução Final" da questão judaica. 

Mucznik escreve que foi em Auschwitz que judeus e ciganos serviram de cobaias para diabólicas experiências levadas a cabo por médicos e enfermeiros nazis, que mais de um milhão de seres humanos de quinze países europeus foram gaseados e onde mais de 200 mil homens, mulheres e crianças morreram de fome, frio e doença, de exaustão e brutalidade, ou "simplesmente de solidão e desesperança absolutas".

Um dos aspectos abordados é a utilização de mão-de-obra escrava por parte de empresas alemãs como a Krupp ou a Siemens, mas sobretudo a I.G. Farben que possuía um campo próprio: Auschwitz III, também chamado Auschwitz-Monowitz ou simplesmente 'Buna'.

"A esperança de vida de um prisioneiro a trabalhar na I.G. — Auschwitz (fábrica de borracha sintética) era de três a quatro meses e de cerca de um mês nas minas de carvão da periferia. Dos cerca de 35 mil prisioneiros que passaram pela 'Buna', pelo menos 25 mil morreram", refere a autora no livro sobre o complexo de extermínio.

Em 1961, refere o livro, sobreviventes intentaram um processo contra a I.G. Farben pelo pagamento de salários em falta: um tribunal da República Federa Alemã ordenou a redistribuição aos sobreviventes mas tanto o tribunal como a I.G. Farben recusaram o pagamento de indemnizações aos familiares dos que morreram como trabalhadores escravos.

A investigadora recorda também que Otto Ambros, dirigente da I.G. Farben e I.G. Auschwitz depois de uma condenação de oito anos, tornou-se director de seis sociedades alemãs e presidente da Knoll, filial da BASF, além de consultor de várias empresas na Grã-Bretanha, França e Suíça.

"Questionado em 1981, por um jornalista americano, sobre as suas actividades no tempo da guerra, Ambros respondeu: 'tudo isso aconteceu há muito. Havia lá judeus. Já não pensamos nisso", refere a investigação de Mucznik para quem é preciso não deixar de recordar os acontecimentos da guerra, que vitimaram, de forma sistemática, milhões de judeus, ciganos, homossexuais e prisioneiros políticos e de guerra. 

"O conhecimento é feito de grãos de areia que se vão multiplicando. O tema do Holocausto é vastíssimo. Cada história é uma história de vida que é preciso escrever", disse Esther Mucznik, também autora do livro "Portugueses no Holocausto".

Há 70 anos, a última chamada de prisioneiros registava 70 mil pessoas. 

Com o avanço do Exército Vermelho, 58 mil prisioneiros são obrigados a abandonar o campo em direcção ao Ocidente nas "Marchas da Morte" onde morrem milhares de pessoas. 

Nove mil prisioneiros doentes, incapazes de andar permanecem em Auschwitz e entre os dias 20 e 26 de Janeiro os fornos crematórios onde eram destruídos os cadáveres foram dinamitados.

A última tatuagem feita num prisioneiro tem o número 202 499, as tropas soviéticas chegaram ao complexo de extermínio no dia 27 de Janeiro de 1945.

Lusa/SOL