O cenário de frio e de neve hoje registado em Auschwitz, a cerca de 60 quilómetros de Cracóvia (sul da Polónia), terá sido o mesmo que as tropas do exército soviético encontraram quando chegaram a este complexo de concentração e de extermínio nazi a 27 de Janeiro de 1945 para terminar com o cativeiro de milhares de prisioneiros.
O Presidente polaco, Bronislaw Komorowski, que abriu a cerimónia, saudou os cerca de 300 sobreviventes presentes, expressando "respeito e reconhecimento" aos soldados soviéticos que libertaram Auschwitz.
Komorowski recordou que a Polónia tornou-se "depositária da memória de Auschwitz-Birkenau e do Holocausto", dois símbolos de um "genocídio totalitário", pedindo ainda ao mundo que tente evitar que uma tragédia como esta volte a repetir-se.
Mas foi a emoção dos testemunhos dos sobreviventes que marcou a cerimónia, que contou com a presença de vários chefes de Estados europeus, entre eles da Alemanha, França, Áustria e Ucrânia, e de representantes de cerca de 50 países, incluindo Portugal, representado pelo secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Bruno Maçães.
A antiga prisioneira polaca Halina Birenbaum, que actualmente reside em Israel, dirigiu-se ao público, em particular aos líderes presentes, para lamentar que, se Auschwitz existiu durante cinco anos, "então todo o mal é possível no nosso mundo".
"Contra isso temos, têm de lutar", disse a sobrevivente, antes de agradecer ao museu-memorial de Auschwitz pela conservação de objectos e de documentos que mostram a barbárie e a humilhação que ela e outras centenas de milhares de pessoas sofreram durante o cativeiro.
"É preciso actuar, não só recordar", afirmou, por sua vez, outro sobrevivente, Roman Kent, sublinhando que também é importante educar as futuras gerações para que entendam o que aconteceu e ensinar a tolerância e a compreensão "tanto em casa, como na escola".
Kent descreveu a vida no campo de concentração com palavras simples e que vão ficar na memória do mundo: "Um minuto em Auschwitz era como um dia inteiro, um dia era como uma semana, e uma semana era como um mês. Uma eternidade de horror".
O polaco Kazimierz Albin fez a única intervenção de um sobrevivente não judeu.
Albin, que foi enviado para Auschwitz em 1940 porque cooperava com a resistência, recordou o papel dos polacos que lutaram contra os nazis e que ajudaram os poucos presos que, como ele, conseguiram fugir com sucesso das instalações de Auschwitz.
Na cerimónia de hoje também compareceram figuras do mundo da cultura, como foi o caso do realizador judeu norte-americano Steven Spielberg, responsável pelo filme "A lista de Schindler".
A par dos testemunhos, foi exibido na cerimónia um documentário de 15 minutos que foi recentemente produzido com a colaboração do museu-memorial Auschwitz-Birkenau e da fundação Shoah. A narradora do documentário é a actriz norte-americana Meryl Streep.
Sobreviventes e representantes colocaram depois velas junto de um monumento dedicado às vítimas do campo.
Apesar de estar ausente das cerimónias, o Presidente russo, Vladimir Putin, recordou em Moscovo que "o fim da monstruosidade e da barbárie implacável nazi foi determinado pelo Exército Vermelho, que salvou do extermínio não só judeus, mas também outros povos da Europa e do mundo".
O chefe de Estado russo qualificou ainda como "inaceitável" qualquer "tentativa de reescrever a História". Em diversas ocasiões, o líder russo tem acusado as autoridades ucranianas e o Ocidente de tentarem reescrever a História.
Por seu lado, o Presidente norte-americano, Barack Obama, prometeu "nunca esquecer" os seis milhões de judeus e todas as outras vítimas que sucumbiram às mãos dos nazis, pedindo ainda à comunidade internacional que assegure que uma situação semelhante não volte a repetir-se.
Através da rede social Twitter, o papa Francisco divulgou uma mensagem escrita em 10 línguas: "Auschwitz gritou a dor de um sofrimento terrível e reclama um futuro de respeito, de paz e de aproximação entre os povos".
O campo Auschwitz-Birkenau foi construído pelas forças alemãs em 1940 para ser um lugar de encarceramento de cidadãos polacos. A partir de 1942, o local transformou-se no complexo mais mortífero da política de extermínio do regime nazi durante a Segunda Guerra Mundial.
Entre 1940 e 1945 terão perdido a vida neste local mais de 1,1 milhões de pessoas, a maioria judeus, mas também polacos, ciganos, prisioneiros de guerra soviéticos e prisioneiros de outras etnias.
O museu de Auschwitz-Birkenau foi aberto em 1947 nas instalações do antigo campo de concentração, que foi declarado Património da Humanidade da Unesco em 1979, passando a ser um dos principais símbolos do Holocausto em todo o mundo.
Lusa/SOL