Tudo bons rapazes

Recuando até à infância, Francisco M. Pereira recorda os tempos em que ele e Miguel Coimbra (colegas de escola desde os seis anos de idade no Colégio São João de Brito) escreviam poesia nas aulas e juntavam “instrumentais às quadras e rimas” que criavam. Essa vontade de musicar o português prolongou-se até à adolescência e,…

Miguel Cristovinho, Francisco M. Pereira e Miguel Coimbra são os D.A.M.A

Daí até começarem a organizar os primeiros concertos não passou muito tempo. “Sempre fiz trabalhinhos como relações públicas na noite e tinha muitos contactos. As pessoas sabiam que tinha uma banda e acabavam por nos deixar tocar. Rodamos praticamente todas as discotecas de Lisboa assim”, conta Francisco, actualmente com 25 anos. Depois de um espectáculo muito concorrido no Paradise Garage – graças à presença em peso dos amigos do São João de Brito e à divulgação através dos tais contactos que o vocalista já tinha acumulado pela experiência de RP -, “os promotores perceberam que ter os D.A.M.A era uma forma de ganharem dinheiro extra antes de a 'noite' propriamente dita começar e começaram a chamar-nos”.

A base de fãs começou então a formar-se há sete anos nessas regulares actuações ao vivo e a persistência dos jovens cantores permitiu que chegassem à rádio antes mesmo de terem um disco editado. O responsável pelo feito foi Miguel Coimbra. “Um amigo quis pegar-nos uma partida e disse-nos que a Cidade tinha passado uma música nossa. Não acreditámos, mas ainda assim enviei uns 20 emails para lá a perguntar se tinha passado alguma coisa. Só uma locutora é que me respondeu, a dizer que não, mas que se quiséssemos podíamos enviar o que tínhamos para ela ouvir”. A iniciativa só deu frutos dois anos depois desse primeiro contacto – 'Popless' chegou ao éter em 2011.

A estratégia para tocar na rádio repetiu-se na hora de encontrar um agente. Francisco começou a enviar com regularidade para agências e editoras emails com as músicas e vídeos das actuações ao vivo. E tal como o que aconteceu com a Cidade, só obtiveram uma resposta. “Do Joaquim Fonseca, da Glam, que hoje é o nosso agente”.

Com a orientação de Joaquim Fonseca, e a entrada, entretanto, de Miguel Cristovinho para a formação, foram para estúdio gravar 'Balada do Desajeitado' e 'Luísa', “músicas que se tornaram sucessos na rádio” e que “despertaram o interesse das editoras”. Após o 'assédio' de várias editoras, dizem, resolveram assinar pela Sony, que lhes dá “liberdade total” para fazerem o que querem. “Às vezes as editoras tentam guiar e mudar os projectos musicais que são fenómenos de popularidade, mas na Sony disseram-nos: 'Não queremos que ninguém mexa naquilo que vocês são, valem pela vossa essência'. Foram palavras mágicas para nós”.

O fenómeno de popularidade que mencionam traduz-se em mais de seis milhões de visualizações que têm no YouTube, nos 88 mil seguidores no Facebook, na aceitação do disco de estreia, Uma Questão de Princípio, que ficou um mês no top 3 de álbuns mais vendidos em Portugal. O single 'Às Vezes' lidera o iTunes nacional.

 Apesar dos números, os três jovens não se iludem. “O facto de termos milhões de visualizações no YouTube não nos vai garantir um futuro”, diz Miguel Campos. “Há 500 bandas que só têm um sucesso e depois não conseguem fazer mais nada. Nós não queremos ser um fenómeno passageiro, até porque não somos uma boys band. Sabemos que temos de trabalhar todos os dias para conseguir criar mais coisas. Nada é garantindo só porque temos bons números nas redes sociais”, acrescenta Miguel Cristovinho. E Francisco remata: “Quanto mais nos deslumbrarmos mais as coisas vão ser efémeras. Queremos cimentar a nossa posição na música portuguesa porque queremos estar aqui para ficar”.

Com prazo de validade

Se há coisa que os Like Us sabem é que um dia vão acabar. Parece prematuro falar do fim para uma banda que nasceu há pouco mais de um ano, mas todas as boys bands têm um prazo de validade. Quando aceitaram pertencer ao projecto – depois de um casting promovido pelo canal Biggs em parceria com a Universal – David Gomes, Francisco Fernández, João Barbosa e Daniel Soares já conheciam as regras do jogo. À semelhança do que acontece no mundo inteiro neste tipo de formações, foi uma editora que os juntou, que os promoveu, que patrocinou aulas de dança e canto e lhes deu um repertório para gravar. Actualmente, a nível mundial os britânicos One Direction são o expoente máximo desta fórmula, que em Portugal também já foi testada em bandas como os Excesso ou os D'ZRT.

“Sabemos que há um preconceito em relação às boys bands e nós também o tínhamos”, assume João Barbosa, o mais velho do grupo, com 18 anos. “Mas é um preconceito errado”. Daniel interrompe: “Acho que conseguimos contrariar esse preconceito. Normalmente uma boys band está muito alinhada a um estilo pop, nós temos uma versatilidade de estilos, não nos prendemos a nada”.

Os dois jovens cantores – que à semelhança do colega David Gomes participaram no programa da TVI  Uma Canção para Ti – garantem ainda que não se sentem “um produto 100% fabricado” por terceiros. “Deram-nos a cana, é verdade, mas nós é que estamos a pescar”, comenta Daniel. E Francisco acrescenta: “Quando fizemos o casting sabíamos que estava tudo planeado, que o objectivo era encontrar quatro vozes para servir um projecto. Mas somos nós que interpretamos as canções e isso fazemos à nossa maneira”.

Outra questão recorrente neste tipo de projectos é o lado financeiro: as editoras são constantemente acusadas de ficar com grande parte das receitas. Os Like Us preferem não mencionar valores. Ainda assim, nenhum se sente injustiçado. “Temos um contrato justo”, diz João. E Francisco acrescenta: “Todo o dinheiro que sai para nos promover é da editora, logo é justo que o grosso do lucro fique com a Universal”.

Com 33 mil seguidores no Facebook e quase meio milhão de visualizações no YouTube, os Like Us lançaram o disco homónimo de estreia em Abril e a ascensão foi rápida. Hoje já não passam despercebidos na rua e as solicitações para fotografias e autógrafos são muitas. O normal, portanto, quando se faz parte de uma boys band. A par do grupo, os cantores mantêm a vida normal para jovens das suas idades. João e Daniel são estudantes universitários e David e Francisco estão a terminar o Secundário. Para já, nenhum premedita o futuro dos Like Us e querem todos “aproveitar o momento”. Mas nenhum esconde, claro, que uma vida ligada à música era ouro sobre azul.

alexandra.ho@sol.pt