A forma peremptória como definem o sentimento que nutrem uns pelos outros foi, aliás, o mote para formarem a Banda do Mar. Prolongar essa amizade transatlântica, dar-lhe um corpo físico. Ninguém sabe, por isso, precisar o momento exacto em que o projecto nasceu, mas confirmam todos que quando se decidiram a gravar um disco grande parte das canções já tinha o esqueleto formado. “Estamos tantas vezes juntos que é normal mostrarmos coisas uns aos outros. Sem nos apercebermos estávamos a coleccionar canções para um projecto a três”, conta Fred. E Mallu acrescenta: “Começou a acontecer-me muito estar fazendo uma canção e pensar 'esta pertence à banda'. Sempre foi uma coisa muito viva, tão viva ao ponto de roubar de mim as minhas composições”.
Esse exercício isolado de compor acabou por determinar a voz de cada canção, com Mallu e Marcelo a só cantarem o que cada um escreveu. “Não foi uma coisa imposta. A gente tentou que cada um cantasse a música do outro, mas durante a composição, como somos nós que estamos cantando naquele momento, a nossa cabeça trabalha para a nossa sonoridade vocal. A composição é a escultura do som. A gente está esculpindo uma melodia através do que emitimos com a voz, logo é natural que uma música encaixe mais na voz de quem a compõe”, diz Mallu, explicando que 'Mia' foi inicialmente escrita por si para Marcelo, mas depois de algumas experiências perceberam que ficava melhor na sua voz.
Dois cantores, zero duetos
Apesar de ter dois cantores – à semelhança do projecto anterior de Marcelo Camelo, os Los Hermanos -, outra particularidade da Banda do Mar é não ter duetos. “Até tentámos, mas nenhum ficou bonito”, conta Mallu, sublinhando que essa opção não criou constrangimentos, até porque estavam sempre a aparecer novas ideias.
“Era muito frequente um ter uma ideia melhor do que o outro. Acontece. E não contabilizávamos nada. 'O Fred teve uma ideia, vamos apontar aqui no caderninho'. Isso não”, acrescenta, com o consentimento do baterista: “Nunca me senti menos importante na banda por não compor ou cantar. Contribuo com outras coisas”.
Bastante elogiado pela crítica brasileira – e pela mãe de Mallu, que faz questão de salientar que a presença do músico português “faz toda a diferença” -, Fred Ferreira diz que tocar ao vivo com Mallu e Marcelo no Brasil pode ser intimidador. “Eles são grandes lá. Ultrapassei isso apoiando-me no espírito português. Somos corajosos e quis provar que merecia estar ali”.
Nos concertos no Brasil, além do trio, a Banda do Mar contou com dois músicos de suporte, à semelhança do que vai acontecer na digressão em Portugal, que começa quarta-feira e prolonga-se até Maio com passagem por cidades como Faro, Guimarães, Beja, Ponta Delgada, Ovar e Braga. Os dois primeiros concertos, esta quarta e quinta no Teatro Tivoli, em Lisboa, esgotaram em poucas semanas. Uma “demonstração do carinho que o público português” sente pela banda, considera Mallu, cuja expectativa de tocar em Portugal é grande.